Morgan Freeman |
Dia 20/11/1695 é o dia da morte de Zumbi dos Palmares. Esse dia é, no Brasil, o Dia da Consciência Negra. E todo ano, nesse dia, volta um video antigo do ator Morgan Freeman, que você já deve ter visto. O ator Morgan Freeman afirma que “para o racismo deixar de existir é só parar de falar nele.” Tal pensamento ganhou adeptos em massa no Brasil, principalmente entre aqueles que se recusam a sentir e perceber a diferença do outro e insistem em interpretar a realidade do mundo a partir de sua particularidade privilegiada. Enquanto a desigualdade perdurar em nossa sociedade, teremos, sim, que reservar um mês dentre os doze do ano para refletirmos a questão racial no país e os avanços por mais inclusão e igualdade neste campo. É por causa do mês de novembro que em outros meses ainda conseguimos refletir que a questão racial não é “vitimismo” e podemos apontar as inúmeras desigualdades produzidas por esta opressão. E porque precisamos de um novembro negro para tocar em ferida ainda tão aberta na sociedade brasileira? Porque não há como concordar com Morgan Freeman sobre silenciarmos quanto à questão racial, a fim de que o racismo acabe magicamente? A resposta a essas questões não se resume a apenas uma, mas podemos nos ater a uma fundamental: porque sustentar o discurso de que somos todos iguais e não deveria haver uma data específica para comemorar a consciência negra pressupõe um perigo. O de acreditarmos que realmente somos todos iguais, quando não somos. Felizmente. Somos diferentes e isso é maravilhoso. O discurso do “somos todos iguais” também é perigoso porque camufla o desejo de se apagar as diferenças em nome de um ideal hegemônico. “Somos todos iguais”, desde que sejamos todos brancos; “não tolero esse seu cabelo afro”. “Somos todos iguais”, desde que sejamos todos cristãos; “a sua religião é do demônio; “Somos todos iguais”, desde que as subjetividades sejam masculinas; “não gosto de ter uma mulher como chefe“; Somos todos iguais”, desde que sejamos todos héteros.; “olha que pouca vergonha esses dois se beijando em público”. Uma pretensa igualdade que vai silenciosamente eliminando o diferente.
Hoje é Dia da Consciência Negra. Hoje, também, é dia de brasileiros enviarem o video do Morgan Freeman nas redes sociais. Em 2012, o ator esteve no prestigiado programa “60 minutes”. Ao ser perguntado sobre “como acabar com a racismo”, Freeman disse que bastava apenas pararmos de falarmos nele. Para Freeman, bastava que “nós parássemos de dividir as pessoas por cores, preto, branco, amarelo…”. Imediatamente a esquerda ficou enfurecida. E a direita comemorou. Para a esquerda, há raça, há racismo, e “vidas negras importam”. Para a direita, não há raça não há racismo, e “todas as vidas importam”. Enquanto a definitiva maioria das pessoas assassinadas no mundo ocidental é de negros. Em junho último, 2020, Freeman mudou de ideia. Aderiu ao movimento Black Lives Matter e começou a usar suas redes sociais para dar corpo a um projeto. Que seus seguidores negros contassem suas histórias de racismo sofrido. Foi imediatamente cancelado pela direita. “Traidor! Vendido! Globalista! Seguidor de George Soros!”, está escrito nos comentários de suas postagens. Ainda mais tosca e desinformada do que a estadunidense, a direita supremacista brasileira ainda não descobriu a mudança de opinião de Morgan Freeman, motivada por… fatos.
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