30 de mar. de 2015

Prostituição doméstica


Comentando o “Se eu fosse você''

A questão da semana é o caso do internauta que está casado há 42 anos, adora a mulher, mas ela não quer mais fazer sexo com ele. Para isso acontecer ela exige que ele lhe pague U$100 cada vez.

Ao ler o seu relato, lembrei-me de Nanda, uma bonita mulher de 34 anos, que atendi no consultório. Ela nunca trabalhou; casou-se com Carlos quando tinha 23 anos e tiveram dois filhos. Seu padrão de vida sempre foi alto. Ele, um empresário bem-sucedido, não se importava com o ócio da mulher. Sentia uma grande atração sexual por ela e ficava feliz em poder mimá-la.

Nanda fazia ginástica, dança, massagem e comprava tudo o que desejava. Com o tempo, seu desejo sexual pelo marido foi diminuindo, até se tornar um sacrifício fazer sexo com ele. Passou a evitar, dando desculpas que já não convenciam mais. Carlos parou de insistir, mas sutilmente foi diminuindo o dinheiro que lhe deixava todos os dias de manhã.

Quando Nanda alegava que precisava comprar alguma coisa ou pagar uma conta, ele carinhosamente lhe dizia para ter paciência porque os negócios estavam numa fase difícil. A situação chegou ao ponto dela ficar praticamente sem dinheiro algum, apenas a conta certa do supermercado e das despesas das crianças.

Numa tarde em que estava reunida com os amigos, Nanda desesperada desabafou: “Não transo com ele há dois meses, não consigo. É um sacrifício, mas hoje não tem jeito, vou ter que fazer sexo de qualquer maneira. Meu cabelo está horrível, preciso de dinheiro urgente para cortá-lo.”

No dicionário encontramos a seguinte definição de prostituta: “mulher que pratica o ato sexual por dinheiro”. Na Antiguidade, a prostituição foi uma instituição sagrada muito comum, chegando a ser exercida nos templos. Mulheres respeitáveis faziam sexo com o sacerdote ou com um passante desconhecido, realizando assim um ato de adoração a um deus ou deusa.

Com o surgimento do cristianismo, os templos foram fechados e o meretrício passou a ser comercializado com fins lucrativos para aqueles que faziam das mulheres suas escravas. Desde então a prostituição passou a ser vista como necessária à sociedade; uma atividade repulsiva, mas tolerada para evitar algo pior.

Aí vem a pergunta: quantas mulheres casadas, respeitadas e valorizadas socialmente se prostituem com seus próprios maridos? Quantas moças são educadas para só se casar com homens que lhes possam dar conforto e dinheiro? Quantas mulheres solteiras só aceitam ir para um motel com um homem se antes ele pagar o jantar num restaurante caro?

É impossível calcular, mas nada disso é falado. Tudo se passa por baixo do pano para que a respeitabilidade dessas pessoas seja preservada. A prostituta é desprezada, mas a única diferença é que seu jogo é claro. Ela não se preocupa em fingir. “Entre as que se vendem pela prostituição e as que se vendem pelo casamento a única diferença consiste no preço e na duração do contrato.”, diz Simone de Beauvoir

Essa é uma história bem antiga. Quando o patriarcado se estabeleceu, a mulher tornou-se um objeto que podia ser comprado, trocado ou repudiado. Instalada a relação opressor/oprimido, a mulher não encontrou outra alternativa. Usou a única arma que tinha para se defender: o seu corpo. Controlando a satisfação das exigências sexuais masculinas, conseguia obter em troca vantagens, assim como jóias, vestidos, perfumes etc.



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