A comunidade judaica francesa tem sido alvo de ataques cada vez mais frequentes
Segundo dados de uma agência especializada na emigração de judeus para Israel, 3,2 mil pessoas seguiram esta rota em 2013, um aumento de 63% no número registrado em 2012. Muitos afirmam que a crise econômica e o desemprego na França, que chega ao índice de 11%, contribuem para a onda de emigração. O governo de Israel também estimula a mudança, dando ajuda aos que chegam ao país e reconhecimento a diplomas e qualificações conseguidas na França.
Na semana passada, milhares de judeus franceses participaram de uma feira em Paris com informações sobre a mudança para Israel, em meio a um aumento sem precedentes na imigração para o Estado judeu e uma onda de ataques antissemitas. De acordo com a Agência Judaica, a aliá (migração) para Israel, a partir da França, registrou um aumento dramático de três vezes, em janeiro e fevereiro de 2014, em comparação com um ano antes. No total foram 3.280 imigrantes da França que chegaram a Israel, em 2013, em comparação com os 1.917 do ano anterior.
O Bureau Nacional de Vigilância contra o Antissemitismo, um grupo de vigilância conhecido como BNVCA, com base em Drancy, registrou uma série de incidentes antissemitas na França, nas últimas semanas, incluindo um ataque violento contra um professor judeu e um ataque com faca a um rabino e seu filho, em Paris.
Fascismo
Ainda segundo Medvedovsky, “em 1965, 20 anos depois do final da Segunda Guerra Mundial, o cineasta Mikhail Romm produziu o filme chamado Fascismo Ordinário (também conhecido como Fascismo de Todos os Dias), um documentário que conta a história do nascimento do fascismo na Alemanha e suas consequências, e que foi o primeiro filme a ter o objetivo de fazer não esquecer aquilo que a humanidade nunca poderá esquecer”.
Leia, a seguir, os principais trechos do artigo:
Nos anos seguintes, aqui e ali, surgiram alguns movimentos neonazistas, até mesmo nas grandes democracias europeias. Engraçado é que os mais atingidos foram os países que mais sofreram na Segunda Guerra Mundial.
Um dos países onde o fascismo gradualmente começou a ganhar força foi a Ucrânia, devastada durante aquele conflito. Ela foi campo de grandes batalhas contra as forças alemãs, e se transformou numa imensa cova de milhares de soldados que deram suas vidas pela liberdade e pela Pátria.
Passaram-se 69 anos. O ultradireitista Dmitri Yarosh, criminoso procurado por participar da guerrilha chechena, defensor da limpeza étnica, dono de um fortemente armado e treinado exército de paramilitares – base da Guarda Nacional ucraniana, de acordo com as revelações da imprensa internacional –, candidatou-se ao cargo de presidente da Ucrânia.
O Governo da Rússia repassou à Interpol a documentação sobre o mandado de prisão desse criminoso, líder da organização ultranacionalista ucraniana Setor de Direita, que mantém o poder em Kiev. O Comitê de Investigação da Rússia emitiu uma ordem de busca e captura internacional para Yarosh, sob a acusação de incitar o terrorismo através da mídia, depois que o ucraniano requisitou pelas redes sociais o apoio do líder extremista e terrorista checheno Doku Umarov.
O líder ultranacionalista ucraniano anunciou em entrevista a uma agência de notícias de seu país que, no caso de um conflito armado da Ucrânia com a Rússia, a sua organização Setor de Direita iria atacar e danificar a infraestrutura de transporte de petróleo e gás russos para a Europa, cortando assim a fonte de renda de Moscou com estes recursos.
Dias depois, Yarosh foi igualmente acusado pelo Comitê de Investigação russo de ter participado de combates contra soldados russos na Chechênia em 1994 e 1995. A informação foi prestada pelo porta-voz do Comitê, Vladimir Markin. Segundo ele, Yarosh considera que a Rússia é um inimigo eterno da Ucrânia e está convencido da necessidade de uma guerra entre os dois países.
Yarosh exigiu do governo da Ucrânia a imediata formação de um Comando Supremo e a declaração de uma mobilização geral da população. Junto a isso, pediu que os armamentos estocados nas regiões fronteiriças fossem transferidos para o interior do país, e requisitou o fornecimento de novas armas junto aos países da União Europeia. No currículo dele e da sua tropa constam a participação mais do que ativa no golpe de estado do dia 22 de fevereiro e a derrubada do legítimo presidente da Ucrânia.
São bem conhecidos os métodos da turma dele, de convencer os deputados de Parlamento Ucraniano a votar de acordo com os seus desejos. A demissão forçada, inclusive com força física, do diretor do primeiro canal de televisão da Ucrânia, só porque permitiu aos espectadores assistir às palavras do presidente da Rússia Vladimir Putin, foi amplamente divulgada pela mídia internacional.
E como reagiram os novos amigos ocidentais – senadores, membros do Parlamento Europeu e governos da Europa, e consultores de toda espécie do novo governo “pré-democrático” da Ucrânia, apoiado pelas forças de extrema direita? Não reagiram, não perceberam nada, muito pelo contrário, abraçaram o pessoal de direita nas ruas de Kiev e declararam que não existem violência e antissemitismo na Ucrânia, e somente em situações super alarmantes pediram um pouco de calma.
Levando em consideração a prática de violência e terror demonstrada recentemente pelos seus correligionários em Kiev e outras cidades ucranianas, e o descontrole que domina o país, o caminho de Dmitri Yarosh para a presidência pode ser bem mais curto do que muita gente imagina, lembrando a Alemanha dos anos 40 do século passado.
Não seria, portanto, uma boa ideia exibir O Fascismo Ordinário para todos aqueles que por ‘ingenuidade’ ou ‘amnésia’ não lembram ou esqueceram as palavras ‘nazismo’, ‘assassinatos’, ‘violência’, ‘guerra mundial’?
Vamos deixar os conselhos de lado. Essa gente boa não precisa de conselhos. Eles conhecem a história, mas pensam que ela preparou para eles outro desfecho.
Os dirigentes da Polônia, por exemplo. Auschwitz não está tão longe da capital, e o gueto estava na própria Varsóvia, mas não se fala do fascismo no país vizinho. Em compensação, há ameaças a outro vizinho, e doze aviões de caça americanos em sua própria terra.
Angela Merkel, que está recebendo críticas no Bundestag (o parlamento alemão) pela inexplicável passividade em relação à ultradireita no país vizinho, quer ensinar o pai-nosso e boas maneiras aos russos?
A França… A ultradireita já está batendo à sua porta, mas o discurso dos dirigentes continua… Sem comentários…
A subsecretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, depois de visita à praça da Independència, em Kiev, e conversas com seus novos parceiros na luta “pela democracia e a liberdade”, por sua vez deverá estar muito ocupada no próximo Yom Kippur – o dia mais sagrado para os judeus – quando cada um deverá pedir perdão pelas besteiras que cometeu.
Tudo isso é ao mesmo tempo triste, nojento, mas tremendamente ridículo e medíocre como são aqueles que se consideram democratas e os únicos e perpétuos donos da verdade, na sua ganância e interesses mesquinhos, sempre distantes da vontade de seus povos.
E o fascismo de 2014? Horroroso, intragável, abominável, mas continua ordinário como todo fascismo, porque não tem como ser diferente.
Finalmente, três pequenos acréscimos para concluir:
1 – Vazou recentemente para a imprensa a conversa da ex-primeira-ministra e possível candidata à presidência da Ucrânia, Yulia Tymoshenko, na qual ela foi muita clara ao dizer “matar todos os russos”, referindo-se aos oito milhões de russos que moram na Ucrânia.
2 – Em 24 de março completam-se 15 anos do bombardeio da Iugoslávia pela Força Aérea dos Estados Unidos, cuja autorização não foi concedida pelo Conselho de Segurança da ONU.
3 – Poucos dias antes do golpe de Estado em Kiev, nos Jogos Olímpicos de Sochi, a jovem patinadora russa Yulia Lipnitskaya conquistou a medalha de ouro ao dançar a música-tema de “A Lista de Schindler”, numa homenagem a uma famosa cena desse filme de Steven Spielberg.
Que coincidências marcantes.
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