5 de out. de 2014

Por que vocês buscam eleger um chefe político?


"Por que se sujeitam comunidades e nações ao mando de um chefe?" Que são comunidades e nações? Um grupo de indivíduos que vivem juntos. Por outras palavras, a sociedade, a comunidade, a nação, são vocês, o indivíduo, em nossas relações com outro indivíduo; isso é um fato patente. Por que procuram eleger um chefe? Vocês o fazem, evidentemente, porque estão confusos, não é verdade? Um homem lúcido, íntegro, não precisa de um chefe. Para ele, um chefe é uma coisa molesta, um fator de desintegração na sociedade. 

Vocês procuram um chefe porque estão confusos; não sabem o que fazer, e desejam que lhes digam o que devem fazer, e por isso procuram métodos de conduta, social, política e religiosa. Confusos, como estão, procuram um chefe — vejam bem o que isso subentende. Se, quando estão confusos, buscam um chefe para lhes tirar da confusão, significa isso que  não estão em busca da claridade, não estão interessados na causa da confusão, mas só querem que os levem para fora dela.

Mas, visto que estão confusos, escolherão também um chefe confuso. Não irão procurar um chefe que vê claro, porque ele lhes dirá que devem olhar para a confusão de vocês, em vez de fugir da mesma; lhes dirá que a causa da confusão está em si mesmos. Mas não é isso o que querem; querem um chefe que lhes tire da confusão; e porque a mente de vocês está confusa, procuram um que também esteja confuso. 

Como pode a mente confusa guiar outra mente para fora da confusão? A mente que está confusa há de ter também um guia confuso; por conseguinte, todos os guias são inevitavelmente confusos, visto que nós os criamos por causa de nossa confusão — é importantíssimo que se compreenda isso. Ao compreenderem esse fato, não irão procurar um chefe, mas se tornarão responsáveis pela eliminação de sua confusão. É só o homem confuso que, não sabendo como agir, procura um chefe para ajudá-lo a agir; mas o chefe está também confuso, e é por isso que os chefes são um fator de desintegração na vida de vocês. 

O chefe é "projetado" pela própria confusão de vocês, e por conseguinte ele não é senão vocês mesmos, sob forma diferente, como também o são os seus governos. É a "autoprojeção" que cria o chefe; um herói nacional é uma exteriorização, uma duplicata de vocês mesmos. O que são, ou o que desejam ser, assim é o chefe de vocês; esse chefe, portanto, não pode lhes tirar do caos. A solução do caos está em suas próprias mãos, e não nas mãos alheias. A regeneração é produto da compreensão de si mesmos, e não do seguimento de alguém, porque esse alguém é vocês mesmos, mais eloquente, mas igualmente confuso, igualmente tirânico, igualmente tradicionalista. 

O problema, portanto, não é o chefe, mas, sim, como desarraigar a confusão. Pode alguém lhes ajudar a afastar a confusão? Se procuram alguém para afastar a sua confusão, ele só poderá os ajudar a aumentá-la, porque a mente que está confusa é incapaz de escolher o que é claro; visto que está confusa, só pode escolher o que é confuso. 

Se vocês desejam se libertar radicalmente da confusão, precisam colocar em ordem suas mentes e corações e de considerar as causas responsáveis pela confusão. Só surge a confusão quando não há autoconhecimento. Quando não me conheço a mim mesmo e não sei o que fazer ou o que pensar, naturalmente estou envolvido no torvelinho da confusão. Mas quando me conheço a mim mesmo, o processo integral de mim mesmo — o qual é extraordinariamente simples quando temos a intenção de nos conhecer a nós mesmos — então, dessa compreensão nasce a claridade, dessa compreensão resulta a conduta correta. 

É pois de suma importância deixar de seguir o guia, e compreender a si mesmo. A compreensão de si mesmo traz amor e traz ordem. O caos só existe em relação com alguma coisa, e enquanto não compreendermos essa relação há de haver confusão. Compreender as relações é compreender a mim mesmo, e compreender a mim mesmo é fazer nascer aquela qualidade de amor, na qual existe bem-estar. Se sei amar minha esposa, meus filhos, meu próximo, sei amar todo mundo. Visto que não amo a ninguém, estou permanecendo apenas no nível intelectual ou verbal com relação a humanidade.

O idealista causa enfado: ama a humanidade com o cérebro, não ama com o coração. Quando vocês amam, não há nenhuma necessidade de chefe. São os vazios de coração que procuram o chefe, para encher esse vazio com palavras, com uma ideologia, com uma utopia do futuro. O amor só está no presente, não no tempo, não no futuro. Para quem ama, a eternidade é agora; porque o amor é sua própria eternidade.


Krishnamurti em, A ARTE DA LIBERTAÇÃO.

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