Nesta semana, as autoridades de saúde na Nova Zelândia anunciaram que a ilha – altamente preocupada quanto à prevenção de doenças – sofreu seu primeiro caso e primeira morte a partir de uma cepa de bactérias de drogas totalmente resistentes. De acordo com o jornal “New Zealand Herald”, em janeiro, enquanto estava ensinando Inglês no Vietnã, Brian Pool sofreu uma hemorragia cerebral e foi operado em um hospital vietnamita.
Levado para o hospital de Wellington, testes descobriram que ele estava carregando um cepa da bactéria conhecida como KPC-Oxa 48 – que rejeita todo o tipo de antibiótico. O clínico microbiolgista da instituição, Mark Jones explicou: “Nada a afetava. Absolutamente nada. É a primeira que nós encontramos que é resistente a todos os antibióticos conhecidos”.
A morte de Pool é uma tragédia terrível. Mas é também uma lição em dose dupla: ela ilustra que a resistência aos antibióticos pode se espalhar em qualquer lugar, não importa as defesas que levantemos, e demonstra que estamos à beira de entrar em uma nova era na história. Jones, o médico que tratou Pool, afirma na matéria do periódico neozelandês: “Este homem está na era pós-antibiótica”.
Mas o que realmente significa para nós estar na era pós-antibióticos? O que estamos perdendo com esta capacidade das bactérias de ignorar completamente os remédios que temos usado desde a Segunda Guerra Mundial? Imagine um futuro sem antibióticos, como seria?
Seria como voltar ao tempo, como voltar ao início do século passado.
As previsões de que podemos sacrificar o milagre antibiótico têm estado por aí há quase tanto tempo quanto as próprias drogas. A penicilina foi descoberta pela primeira vez em 1928 e as baixas no campo de batalha receberam as primeiras doses não experimentais em 1943, rapidamente salvando os soldados que tinham estado perto da morte. Contudo, apenas dois anos depois, o descobridor da droga, Sir Alexander Fleming, advertiu que seu benefício poderia não durar. Aceitando o Prêmio Nobel de Medicina de 1945, ele disse: “Não é difícil fazer micróbios resistentes à penicilina em laboratório, expondo-os a concentrações que não sejam suficientes para matá-los… Há o perigo de que o homem leigo possa facilmente subdosar a si mesmo e, expondo seus micróbios a quantidades não letais da droga, tornando-os resistentes”.
Como biólogo, Fleming sabia que a evolução era inevitável: mais cedo ou mais tarde, as bactérias desenvolveriam as defesas contra os compostos que a indústria farmacêutica emergente estava produzindo contra elas. Porém, o que o preocupava era a possibilidade de que a utilização indevida iria acelerar esse processo. Cada prescrição inadequada e dose insuficiente dada na medicina iria matar as bactérias fracas, mas deixaria as fortes vivas (como fazem as microdoses “promotoras de crescimento” administradas na agricultura, que foram inventadas alguns anos depois do discurso de Fleming). As bactérias podem produzir outra geração em menos de 20 minutos. Com dezenas de milhares de gerações por um ano trabalhando estratégias de sobrevivência, os organismos em breve dominariam as novas potentes drogas.
A previsão de Fleming foi correta. Estafilococos resistentes à penicilina surgiram em 1940, enquanto a droga ainda estava sendo dada a apenas alguns pacientes. A tetraciclina foi introduzida em 1950 e Shigella resistentes à tetraciclina surgiram em 1959. Já a eritromicina chegou ao mercado em 1953 e infecções resistentes à ela apareceram em 1968. Com os antibióticos se tornando mais acessíveis e seu uso aumentando, as bactérias desenvolveram defesas mais rapidamente. Meticilina chegou em 1960 e a resistência à meticilina em 1962; levofloxacina em 1996 e os primeiros casos resistentes ainda no mesmo ano; linezolida em 2000 e a resistência a ela em 2001; daptomicina em 2003 e os primeiros sinais de resistência em 2004.
Com antibióticos perdendo a utilidade tão rapidamente – e, portanto, não retornando o investimento de cerca de US$ 1 bilhão por droga aplicado em sua criação – a indústria farmacêutica perdeu o entusiasmo para fazer mais. Em 2004, havia apenas cinco novos antibióticos em desenvolvimento, em comparação com mais de 500 medicamentos de doenças crônicas para as quais a resistência não é um problema – e que, ao contrário dos antibióticos, são tomadas por anos, não dias. Desde então, as bactérias resistentes se tornaram mais numerosas e, compartilhando DNA umas com as outras, ainda mais difícil de tratar com os poucos medicamentos que permanecem. Em 2009, e novamente este ano, os pesquisadores da Europa e dos Estados Unidos soaram o alarme sobre uma forma sinistra de resistência conhecida como CRE, para o qual apenas um antibiótico ainda funciona.
As autoridades de saúde têm se esforçado para convencer o público de que se trata de uma crise. Em setembro, o Dr. Thomas Frieden, diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo norte-americano, emitiu um alerta contundente: “Se não houver cuidado, em breve estaremos em uma era pós-antibiótica. Para alguns pacientes e alguns micróbios, já estamos lá”.
A chefe médica do Reino Unido, Dame Sally Davies – que afirma que a resistência aos antibióticos é uma ameaça tão grave quanto o terrorismo – publicou recentemente um livro em que imagina o que poderia vir em seguida. Ela esboça um mundo onde a infecção é algo tão perigoso que qualquer pessoa, mesmo com os menores dos sintomas, seria colocada em confinamento até que se recuperasse ou morresse. É uma visão sinsitra, com a intenção de perturbar. Mas ela pode até mesmo subestimar o que a perda de antibióticos significaria.
Em 2009, três médicos de Nova York cuidavam de um homem de 77 anos que passou por uma grande cirurgia e, em seguida, pegou uma infecção hospitalar que era “pan resistente” – isto é, sensível a nenhum tipo de antibiótico. Ele morreu 14 dias depois. Quando os médicos que cuidavam de seu caso deram uma entrevista a uma revista médica meses depois, eles ainda pareciam atordoados. “É uma raridade para um médico no mundo desenvolvido ver um paciente morrer de uma infecção generalizada para o qual não existem opções terapêuticas”, disseram eles, chamando a morte do homem de “o primeiro exemplo em nossa experiência clínica em que não tínhamos tratamento eficaz para oferecer”.
Eles não são os únicos médicos a suportarem esta falta de opções. Brad Spellberg, da Escola de Medicina David Geffen da Universidade da Califórnia (EUA), ficou tão enfurecido com a ineficácia dos antibióticos que escreveu um livro sobre isso. “Sentar-se com uma família, tentando explicar que você não tem mais nada para tratar seu parente que está à beira da morte – isso deixa uma marca indelével em você”, conta. “E não é câncer, é uma doença infecciosa, tratável há décadas”.
Por mais sombrias que sejam, mortes por infecções intra-hospitalares resistentes são fáceis de racionalizar: talvez essas pessoas fossem apenas velhas, já doentes, de alguma forma diferentes do resto de nós. Entretanto, mortes como esta estão mudando a medicina. Para proteger as suas próprias instalações, os hospitais já estão, logo na entrada, sinalizando pacientes que podem transportar bactérias intratáveis. A maioria destes pacientes vêm de lares de idosos e “cuidados intensivos de longo prazo” (uma alternativa aos cuidados intensivos, na qual alguém que precise, por exemplo, de um respirador durante semanas ou meses pode ficar). Como muitos pacientes nessas instituições carregam bactérias altamente resistentes, os trabalhadores dos hospitais os isolam quando chegam e se preocupam com o perigo que representam para os outros. Com as infecções tornando-se ainda mais perigosas, o setor de saúde ficará ainda menos dispostos a assumir tais riscos.
Esses cálculos de risco vão muito além de admitir pacientes possivelmente contaminados de um lar de idosos. Sem a proteção oferecida por antibióticos, categorias inteiras da prática médica seriam repensadas.
Muitos tratamentos requerem a supressão do sistema imunitário para ajudar a destruir o câncer ou para manter um órgão transplantado viável. Essa repressão torna as pessoas extraordinariamente vulneráveis à infecção. Antibióticos reduzem a ameaça e sem eles, tratamentos de quimioterapia ou radioterapia seriam tão perigosos quanto o câncer que procuram curar. Michael Bell, que lidera uma divisão de prevenção de infecção no CDC, garante: “Hoje em dia, lidamos com este risco administrando antibióticos de amplo espectro aos pacientes, às vezes por semanas a fio. Mas se você não puder fazer isso, a decisão de tratar alguém assume um tom ético diferente. Acontece da mesma forma com o transplante. E queimaduras graves são extremamente suscetíveis à infecção. Unidades de tratamento para queimados teriam uma tarefa muito, muito difícil para manter as pessoas vivas”.
Médicos realizam rotineiramente procedimentos que carregam um risco de infecção extraordinário, a menos que antibióticos sejam usados. O principal deles é qualquer tratamento que requeira a construção de portais para a corrente sanguínea e dê às bactérias uma rota direta para o coração ou cérebro. Isso exclui a medicina de cuidados intensivos, com seus respiradores e cateteres, mas também algo tão prosaico como diálise renal, que filtra o sangue mecanicamente.
Próximo da lista: cirurgias, especialmente em lugares que abrigam grandes populações de bactérias, como os intestinos e o trato urinário. Essas bactérias são benignas em seus lares regulares no corpo, porém colocá-las em contato com a corrente sanguínea, como pode acontecer em cirurgias, faz com que infecções sejam praticamente garantidas.
Economistas da saúde britânicos com preocupações semelhantes recentemente calcularam os custos da resistência aos antibióticos. Para examinar como isso afetaria a cirurgia, eles escolheram substituições de quadril, um procedimento comum em outrora atléticos frutos da geração Baby Boom. Eles estimaram que, sem antibióticos, um em cada seis receptores de novas articulações de quadril iria morrer.
Os antibióticos são administrados profilaticamente antes de operações tão grandes como a cirurgia de coração e tão rotineiras quanto cesarianas e biópsias da próstata. Sem as drogas, os riscos decorrentes de tais operações, bem como a probabilidade de os médicos as realizarem, vai mudar.
“Em nosso ambiente de más práticas atual, um médico vai querer fazer um transplante de medula óssea, sabendo que há uma elevada taxa de infecção que você não será capaz de tratar?”, pergunta o Dr. Louis Rice, presidente do departamento de medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Brown (EUA). “Além disso, agora a saúde é um mercado livre, um sistema no qual cada serviço tem a sua taxa – as pessoas estão interessadas em fazer os procedimentos, porque ganham dinheiro”, explica, referindo-se ao sistema de saúde dos Estados Unidos. “Todavia, cinco ou dez anos a partir de agora, vamos provavelmente estar em um ambiente onde temos uma quantia fixa de dinheiro para cuidar dos doentes. E nós poderíamos decidir que alguns desses procedimentos não valem o risco”.
Os procedimentos médicos podem envolver um alto risco de infecções, mas nossas vidas cotidianas são muito arriscadas também. Uma das primeiras pessoas a receber penicilina experimentalmente foi um policial britânico, Albert Alexander. Ele era tão cheio de infecções que seu couro cabeludo escorria pus e um olho teve que ser removido. A fonte de sua doença: arranhar o rosto em uma roseira. (Havia tão pouca penicilina disponível que, embora Alexander tivesse melhorado no início, a droga acabou, e ele morreu).
Antes dos antibióticos, cinco mulheres morriam em cada 1.000 que davam à luz. Uma em cada nove pessoas que tinha uma infecção da pele morria, mesmo a partir de algo tão simples como um arranhão ou uma picada de inseto. Três em cada dez pessoas que contraíam pneumonia morriam por causa dela. As infecções de ouvido causavam surdez, dores de garganta eram seguidas por insuficiência cardíaca, etc. Em uma era pós-antibióticos, você iria mexer com ferramentas elétricas? Deixaria seu filho subir em uma árvore? Teria outro filho?
“Hoje, se você quer ser um hipster descolado e fazer uma tatuagem, você não está colocando sua vida em risco”, compara Bell, do CDC. “As injeções de Botox e lipoaspirações se tornariam ameaças à vida. Mesmo dirigir até o trabalho. Contamos com antibióticos para fazer um acidente grave algo que pode ser superado, ao contrário de uma sentença de morte”.
A previsão de Bell por enquanto é uma hipótese, mas as infecções que resistem até mesmo poderosos antibióticos já entraram no nosso dia-a-dia. Dezenas de atletas profissionais, e mais recentemente Lawrence Tynes do Tampa Bay Buccaneers, ficaram de fora de jogos ou temporadas inteiras por causa de infecções por estafilococos resistentes a drogas, os MRSA. Meninas que fizeram tatuagens de maquiagem permanente perderam suas sobrancelhas depois de contrair infecções. No ano passado, três membros de uma família de Maryland (EUA) – uma mulher idosa e dois filhos adultos – morreram de uma pneumonia resistente que tomou conta depois de simples casos de gripe.
Na Universidade da Califórnia, Spellberg tratou uma mulher com o que parecia ser uma infecção do trato urinário cotidiana – exceto que não foi curada pela primeira rodada de antibióticos e nem pela segunda. No momento em que ele a atendeu, ela já estava em choque séptico e a infecção tinha destruído os ossos em sua espinha. De última hora, o uso do único antibiótico restante salvou sua vida, mas ela perdeu o uso das pernas. “Este é o risco que nós estamos correndo”, ressalta . “Pessoas que vivem vidas normais acabam desenvolvendo infecções quase intratáveis”.
Em 2009, Tom Dukes, um patinador e fisiculturista de 54 anos de idade, desenvolveu diverticulose, um problema comum em que bolsas de desenvolvem nas paredes do intestino. O atleta estava lidando com a doença, observando sua dieta e monitorando os sintomas, quando cólicas abrasadoras o fizeram dobrar-se de dor e o mandaram para o atendimento de emergência. Uma das bolsas de paredes finas tinha rasgado e jogado bactérias intestinais em seu abdômen – exemplares altamente resistentes a medicamentos. Médicos retiraram oito centímetros de seu cólon em uma cirurgia de emergência. Ao longo de vários meses, Dukes se recuperou com a ajuda de antibióticos de último recurso, administrados por via intravenosa. Mesmo anos depois, ele continuava exausto e com dor. “Eu estava vivendo a minha vida, uma vida realmente saudável”, relembra. “Nunca me dei conta de que isso poderia acontecer”.
Dukes acredita, embora não tenha provas, que as bactérias no seu intestino se tornaram resistentes aos medicamentos porque ele comia carne de animais criados com o uso de antibióticos de rotina. Isso não seria difícil: a maior parte da carne nos Estados Unidos é cultivada assim. Em graus variados, dependendo do tamanho e idade, gado, porcos e galinhas – e, em outros países, peixes e camarões – recebem doses regulares para acelerar o seu crescimento, aumentar o seu peso e protegê-los de doenças. De todos os antibióticos vendidos nos Estados Unidos cada ano, 80% são utilizadas na agricultura, principalmente para engordar animais e protegê-los das condições em que são criados.
Um corpo crescente de pesquisas científicas liga o uso de antibióticos em animais ao surgimento de bactérias resistentes a antibióticos. As bactérias resistentes passam dos animais para os seres humanos em águas subterrâneas, poeira, em moscas e via a carne na qual estes animais se transformam.
Uma pesquisa anual do varejo da carne realizada pelo Food and Drug Administration (FDA, Administração de Drogas e Alimentos americana) – parte de um projeto maior que envolve o CDC e o Departamento de Agricultura dos EUA que analisa os animais, carnes e doenças humanas – encontra organismos resistentes a cada ano. No seu relatório de 2011, publicado em fevereiro passado, a FDA descobriu (entre muitos outros resultados) que 65% dos peitos de frango e 44% da carne moída transportavam bactérias resistentes à tetraciclina, e 11% das costeletas de porco levavam bactérias resistentes a cinco classes de medicamentos. Se não for bem cozida, o resultado da ingestão dessa carne são infecções resistentes.
Pesquisadores e ativistas têm tentado há décadas fazer com que a FDA contenha o uso excessivo de antibióticos em fazendas, porém não têm obtido muito sucesso. A agência tentou, na década de 1970, controlar o uso agrícola, revogando a autorização para penicilina e tetraciclina para serem usadas como “promotores de crescimento”, mas esse esforço nunca avançou. A agricultura e indústria farmacêutica veterinária retrucaram, alegando que os antibióticos agrícolas não têm nenhum efeito perceptível na saúde humana.
Poucos, no entanto, têm perguntado o que bactérias resistentes a medicamentos podem significar para os animais de fazenda. Em adição aos promotores de crescimento, a criação de gado utiliza antibióticos para tratar animais individuais, bem como na dose de rotina chamada de “prevenção e controle”, que protege rebanhos inteiros. Se os antibióticos se tornassem inúteis, os animais sofreriam: doenças individuais não poderiam ser tratadas e, se as condições de superlotação em que a maioria dos animais para abate são criados não forem alteradas, mais doenças se espalhariam.
Se a perda dos antibióticos alterar a forma como o gado é criado, os agricultores poderão ser os sofredores da vez. Outros métodos para proteger os animais de doenças – ampliação de celeiros, reduzir a aglomeração e atrasar o desmame, de modo que o sistema imunológico tenha mais tempo para se desenvolver – teriam uma implementação cara e as margens de lucro da agricultura norte-americana já são pequenas. Em 2002, os economistas do Conselho Nacional de Produtores de Suínos estimaram que a remoção de antibióticos da suinocultura forçaria os agricultores a gastar mais US$ 4,50 por porco, um custo que seria repassado aos consumidores.
A criação de animais para abate não é o único aspecto da produção de alimentos que se baseia em antibióticos ou que estaria ameaçada se as drogas não funcionassem. Estas são rotineiramente utilizadas em piscicultura e carcinicultura, particularmente na Ásia, para a proteção contra as bactérias que se espalham nas piscinas onde os frutos do mar são criados. Como resultado, a indústria da aquicultura está lutando com doenças resistentes a antibióticos que atacam os peixes e atualmente procura alternativas.
Nos Estados Unidos, os antibióticos são usados para controlar as doenças em frutas, mas essas proteções também estão se quebrando. No ano passado, uma infestação de fogo bacteriano resistente à estreptomicina, que em 2000 quase destruiu a indústria da pera e da maçã de Michigan, apareceu pela primeira vez em pomares no interior de Nova York, que é (depois de Michigan) um dos estados mais importantes na produção da maçã no país. “Nossos produtores nunca viram isso e não estão preparados para isso”, atesta Herb Aldwinckle, professor de fitopatologia da Universidade de Cornell (EUA).
Uma era pós-antibióticos é inevitável? Possivelmente não, pelo menos não sem mudanças. Em países como a Dinamarca, Noruega e Holanda, a regulamentação governamental do uso de antibióticos médicos e agrícolas ajudou a frear a rápida evolução das bactérias em direção a intratabilidade. No Brasil, desde 2010 novas regras entraram em vigor para a venda e prescrição de antibióticos e as farmácias passaram a ser obrigadas a reter as receitas médicas para 93 substâncias. Em 2011, esta lista passou a conter 119 substâncias.
Porém, os EUA nunca se dispuseram a instituir tais controles e a alternativa do livre mercado de pedir a médicos e consumidores que utilizem antibióticos da forma moderada foi tentada durante décadas sem muito sucesso. Como tem um longo esforço para reduzir o uso de antibióticos em fazendas, a FDA em breve deve emitir novas regras para a agricultura, mas elas vão estar contidas em um guia voluntário de “orientação para a indústria”, e não em um regulamento com força de lei.
O que pode adiar o apocalipse, por um tempo, é a produção de mais antibióticos. Mas primeiro as empresas farmacêuticas terão de ser atraídas de volta para um mercado que já consideram pouco compensador. A necessidade de novos compostos poderia forçar o governo federal norte-americano a criar incentivos para o desenvolvimento de drogas: extensões de patentes, por exemplo, ou mudanças nos requisitos para ensaios clínicos. Entretanto, sempre que a pesquisa destas drogas revive, alcançar um novo composto leva pelo menos dez anos, desde a concepção até chegar à prateleira da farmácia. Não haverá uma nova droga para resolver o problema em breve e, dada a inflexibilidade da evolução bacteriana, nenhuma que pode resolver o problema para sempre.
Nesse meio tempo, a indústria médica está revivendo a solução antiquada de limpeza hospitalar rigorosa e também tentando novas ideias: construindo instrumentos de exame minucioso automático de prescrições em registros médicos computadorizados e desenvolvendo testes rápidos para assegurar que as drogas não sejam prescritas quando não são necessárias. A ameaça do fim dos antibióticos pode até impulsionar uma reconsideração dos fagos – coquetéis de vírus fabricados individualmente que atacam somente bactérias que foram um dos pilares do atendimento médico da União Soviética durante a Guerra Fria. Até agora, a FDA permitiu a entrada desses micro-organismos no mercado dos EUA apenas como parte da segurança alimentar, não como tratamento para infecções.
Mas, para que qualquer uma dessas coisas aconteça, a perspectiva de uma era pós-antibióticos tem que ser levada a sério. “Ninguém se identifica com a imagem de si mesmo deitado em um leito de UTI em um respirador”, diz Rice, da Universidade de Brown. Mas deveriam. [Medium, Wired, CNC, CFM]
http://hypescience.com/voce-nao-esta-devidamente-preocupado-com-a-vida-na-era-pos-antibioticos/
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