Aleatoriedade, Falibilidade e Crendice
Aleatoriedade é o acontecimento de vários fatos sem relação entre si que podem acometer toda e qualquer espécie, ou toda e qualquer forma de vida, em circunstâncias variadas e dissociadas. Por exemplo:
"Maria saiu de casa, foi atropelada e morreu."
Processo aleatório, passível de ocorrer com qualquer pessoa, uma vez que acidentes, como os atropelamentos, ocorrem todo o tempo. A menos que nossa personagem, no caso "Maria", seja possuidora de uma fé ferrenha, seja crente em alguma divindade ou praticante de determinada religião.
Neste caso, segundo manda sua fé, não há aleatoriedade, ou assim pensam tais pessoas; pois na prática religiosa a aleatoriedade nem é conhecida. É tudo a "vontade de Deus!"
A vontade de Deus é a total entrega de todos os fatos cotidianos, desde o mais corriqueiro ao mais extraordinário, a vontade Dele, explicando assim tudo aquilo que temos dificuldade de entender ou aceitar.
A vontade de Deus esquarteja a aleatoriedade pois dá ao indivíduo que passa por determinada situação um valor acima daqueles atribuídos às pessoas comuns.
Veja bem, se Maria não morresse no atropelamento sentiria-se agraciada pelo fato de Deus tê-lá "deixado sobreviver", "escapado da morte" ou "protegido-a do perigo", eliminando assim o sentimento de que o acontecido nada teve de especial e que foi apenas, e tão somente, a junção de fatores opostos em uma equação incrivelmente ocasional.
Sim, ocasional e nada mais que isso.
Imagine por um minuto, caro leitor, sua jornada diária:
Você acorda, sai de casa, vai para o trabalho, almoça, vai de novo para o trabalho e, ao fim do dia, volta para casa.
Nada demais não é?
Mas no pano de fundo destas ações cotidianas milhões de outras ações, intermediárias e consecutivas, estão ocorrendo em um processo milhões e milhões de vezes além do que podemos imaginar. Pessoas com as quais você se encontra pelo caminho, carros que passam por você, coisas que são colocadas diante de você a todo o momento são, nada mais que, apenas acontecimentos corriqueiros e comuns. Se você, por acaso, sair dez minutos mais tarde de casa vai encontrar-se com pessoas diferentes no caminho, passarão carros diferentes por você e coisas diferentes comporão seu dia.
Mas afinal de contas qual é o mal deste texto louco? Qual é o problema de quem possui fé desconsiderar a aleatoriedade?
"Maria saiu de casa, foi atropelada e morreu."
Processo aleatório, passível de ocorrer com qualquer pessoa, uma vez que acidentes, como os atropelamentos, ocorrem todo o tempo. A menos que nossa personagem, no caso "Maria", seja possuidora de uma fé ferrenha, seja crente em alguma divindade ou praticante de determinada religião.
Neste caso, segundo manda sua fé, não há aleatoriedade, ou assim pensam tais pessoas; pois na prática religiosa a aleatoriedade nem é conhecida. É tudo a "vontade de Deus!"
A vontade de Deus é a total entrega de todos os fatos cotidianos, desde o mais corriqueiro ao mais extraordinário, a vontade Dele, explicando assim tudo aquilo que temos dificuldade de entender ou aceitar.
A vontade de Deus esquarteja a aleatoriedade pois dá ao indivíduo que passa por determinada situação um valor acima daqueles atribuídos às pessoas comuns.
Veja bem, se Maria não morresse no atropelamento sentiria-se agraciada pelo fato de Deus tê-lá "deixado sobreviver", "escapado da morte" ou "protegido-a do perigo", eliminando assim o sentimento de que o acontecido nada teve de especial e que foi apenas, e tão somente, a junção de fatores opostos em uma equação incrivelmente ocasional.
Sim, ocasional e nada mais que isso.
Imagine por um minuto, caro leitor, sua jornada diária:
Você acorda, sai de casa, vai para o trabalho, almoça, vai de novo para o trabalho e, ao fim do dia, volta para casa.
Nada demais não é?
Mas no pano de fundo destas ações cotidianas milhões de outras ações, intermediárias e consecutivas, estão ocorrendo em um processo milhões e milhões de vezes além do que podemos imaginar. Pessoas com as quais você se encontra pelo caminho, carros que passam por você, coisas que são colocadas diante de você a todo o momento são, nada mais que, apenas acontecimentos corriqueiros e comuns. Se você, por acaso, sair dez minutos mais tarde de casa vai encontrar-se com pessoas diferentes no caminho, passarão carros diferentes por você e coisas diferentes comporão seu dia.
Mas afinal de contas qual é o mal deste texto louco? Qual é o problema de quem possui fé desconsiderar a aleatoriedade?
A sensação de que há um Deus invisível e imanifestável que coordena e restringe ações, destruindo a aleatoriedade da vida, desliga nosso bom senso e respeito pela vida do outro. Basta observar a maneira, que chega a ser pérfida, com que nos regozijamos quando duas ou três pessoas salvam-se em um desastre onde centenas de outras perderam suas vidas. O respeito com quem morreu é praticamente nulo diante da felicidade por quem sobreviveu.
É um absurdo completo, um desrespeito profundo e uma imbecilidade sem tamanho.
Preferimos fugir da compreensão dos fatos alegando e relegando sua feitura à força de uma criatura invisível que "escolhe" quem vai sofrer e quem vai sorrir baseado em um pensamento execrável:
"Deus sabe o que faz!"
Quando damos a Deus o direito de ferir e matar qualquer pessoa, a qualquer momento e indiscriminadamente, dizemos que quem sofre tal tormento, não apenas merece a mazela mas, é a fonte e o veículo das ações do ser imaginário que está agindo com total razão e soberania diante do indivíduo que ali sofre e perece.
Neste ato, digo de dar a Deus a causalidade de todos os fatos, eliminamos também um conceito comum em nosso mundo moderno:
A falibilidade de todas as máquinas maravilhosas e complicadas que criamos.
Sim, conseguimos nos convencer que é Deus que não permite que nosso carro "pegue", ou seja funcione, logo de manhã antes daquela viagem de feriado e, ficamos ainda mais convencidos do fato quando ligamos a tv e descobrimos que um acidente monstruoso ocorreu na estrada bem no provável momento em que lá estaríamos.
Sentimo-nos reconfortados e felizes, damos graças, vamos a igreja, reforçamos os laços com a fé e agarramo-nos nas barras da "túnica" divina, saltitantes como cervos fugidos do leão mas, despudoradamente, ignoramos e aceitamos que as dezenas de mortes na estrada estão aceitavelmente inclusas no plano de Deus.
Um plano macabro, confuso e desumano.
Nossas invenções são completamente falíveis.
Máquinas falham, instrumentos erram em suas medições, aviões caem, trens descarrilam, carros perdem o freio, pneus estouram, foguetes explodem e tudo mais que possamos criar são passíveis de erros e falhas.
Mas recusamo-nos a aceitar que falhas e acontecimentos meramente corriqueiros resultam em grandes desastres que são causados por máquinas que nós mesmos criamos, em situações nas quais nós mesmos nos colocamos, em milésimos de segundos e em qualquer local do planeta.
É um absurdo completo, um desrespeito profundo e uma imbecilidade sem tamanho.
Preferimos fugir da compreensão dos fatos alegando e relegando sua feitura à força de uma criatura invisível que "escolhe" quem vai sofrer e quem vai sorrir baseado em um pensamento execrável:
"Deus sabe o que faz!"
Quando damos a Deus o direito de ferir e matar qualquer pessoa, a qualquer momento e indiscriminadamente, dizemos que quem sofre tal tormento, não apenas merece a mazela mas, é a fonte e o veículo das ações do ser imaginário que está agindo com total razão e soberania diante do indivíduo que ali sofre e perece.
Neste ato, digo de dar a Deus a causalidade de todos os fatos, eliminamos também um conceito comum em nosso mundo moderno:
A falibilidade de todas as máquinas maravilhosas e complicadas que criamos.
Sim, conseguimos nos convencer que é Deus que não permite que nosso carro "pegue", ou seja funcione, logo de manhã antes daquela viagem de feriado e, ficamos ainda mais convencidos do fato quando ligamos a tv e descobrimos que um acidente monstruoso ocorreu na estrada bem no provável momento em que lá estaríamos.
Sentimo-nos reconfortados e felizes, damos graças, vamos a igreja, reforçamos os laços com a fé e agarramo-nos nas barras da "túnica" divina, saltitantes como cervos fugidos do leão mas, despudoradamente, ignoramos e aceitamos que as dezenas de mortes na estrada estão aceitavelmente inclusas no plano de Deus.
Um plano macabro, confuso e desumano.
Nossas invenções são completamente falíveis.
Máquinas falham, instrumentos erram em suas medições, aviões caem, trens descarrilam, carros perdem o freio, pneus estouram, foguetes explodem e tudo mais que possamos criar são passíveis de erros e falhas.
Mas recusamo-nos a aceitar que falhas e acontecimentos meramente corriqueiros resultam em grandes desastres que são causados por máquinas que nós mesmos criamos, em situações nas quais nós mesmos nos colocamos, em milésimos de segundos e em qualquer local do planeta.
E o quê nos faz desconsiderar a aleatoriedade e ignorar a falibilidade?
É a crença, ou Crendice , em um ser estranho, invisível, imanifestável, mesquinho, machista, irrefreável, mutante(apesar de, teoricamente, ser imutável), infantil, ciumento e inexistente que, em última analise, é apenas o reflexo de nossas próprias vontades, loucuras e vaidades.
Depois de termos compreendido o sistema solar, de aprendermos sobre o funcionamento do universo, de entendermos as estrelas, de especularmos sobre a vida no cosmos infinito, de inventamos as vacinas, o rádio, os celulares, os computadores, os transplantes, os remédios, depois de compreendemos o funcionamento da natureza, de construirmos cidades fantásticas, de dominarmos a noite, os céus e os mares.....
depois de tudo isso continuamos crendo, acreditando e doando nosso tempo e nossas vidas a sentimentos e idéias saídas da idade do bronze, a deuses mitológicos cheios de fobias e maldades.
Transformando o que sentimos pelo outro em frases que traduzem nosso desapego e falta de respeito:
"Deus quis assim." "Ele é Deus! Não discuta com Ele!" "Você sem Deus não é nada." "Você só está vivo por que Deus quer."
"Deus dá, e retira, a vida a quem quer."
É a crença, ou Crendice , em um ser estranho, invisível, imanifestável, mesquinho, machista, irrefreável, mutante(apesar de, teoricamente, ser imutável), infantil, ciumento e inexistente que, em última analise, é apenas o reflexo de nossas próprias vontades, loucuras e vaidades.
Depois de termos compreendido o sistema solar, de aprendermos sobre o funcionamento do universo, de entendermos as estrelas, de especularmos sobre a vida no cosmos infinito, de inventamos as vacinas, o rádio, os celulares, os computadores, os transplantes, os remédios, depois de compreendemos o funcionamento da natureza, de construirmos cidades fantásticas, de dominarmos a noite, os céus e os mares.....
depois de tudo isso continuamos crendo, acreditando e doando nosso tempo e nossas vidas a sentimentos e idéias saídas da idade do bronze, a deuses mitológicos cheios de fobias e maldades.
Transformando o que sentimos pelo outro em frases que traduzem nosso desapego e falta de respeito:
"Deus quis assim." "Ele é Deus! Não discuta com Ele!" "Você sem Deus não é nada." "Você só está vivo por que Deus quer."
"Deus dá, e retira, a vida a quem quer."
Ora... Fatos são puramente aleatórios, doenças biológicas são probabilidades das milhões de relações sexuais praticadas a cada segundo e que, variavelmente, acometem fetos ao redor do mundo. Acidentes ocorrem milhares de milhões de vezes a cada dia, uma vez que colocamos nossos corpos em caixas metálicas cheias de materiais perfuro-cortantes, conhecidos como carros e aviões, que estão passiveis de falhar a qualquer momento. Vivemos em um organismo vivo, que chamamos terra, que quer, assim como nós, sobreviver e que tem seus próprios mecanismos de existência. Que está alheio ao fato de que estamos construindo nossas casas em locais que são, historicamente, acometidos por terremotos e outras catástrofes. No entanto, mesmo sabendo disso, preferimos achar que foi Deus que enviou tal "agouro", "mal" ou "castigo" em resposta a algum provável pecado de nossa parte.
Talvez façamos isso para nos sentirmos mais aliviados, importantes ou mais afortunados que aqueles que perderam suas vidas em tais eventos, o que por si só já demonstra que somos seres oportunistas e de mentalidade atrasada que só aprenderão, de fato, qual é seu papel neste lugar quando percebermos que viver pelo outro é o melhor dos caminhos e que sociedade, só é sociedade quando os direitos complementam-se, sem a necessidade que o direito de alguém comece ou termine, justamente, quando o outro cruza seu caminho.
Talvez façamos isso para nos sentirmos mais aliviados, importantes ou mais afortunados que aqueles que perderam suas vidas em tais eventos, o que por si só já demonstra que somos seres oportunistas e de mentalidade atrasada que só aprenderão, de fato, qual é seu papel neste lugar quando percebermos que viver pelo outro é o melhor dos caminhos e que sociedade, só é sociedade quando os direitos complementam-se, sem a necessidade que o direito de alguém comece ou termine, justamente, quando o outro cruza seu caminho.
http://buscaderazao.blogspot.com.br/
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