10 de dez. de 2014

GRETA TAUBERT - QUEBRANDO AS CORRENTES DO CONSUMISMO


Já imaginou se nosso sistema econômico atual entrasse em colapso, e de um dia para o outro você não tivesse mais como se sustentar usando dinheiro?

Foi isso que a jornalista alemã Greta Taubert, 30 anos, fez, deixando seu apartamento em Leipzig, cidade próxima de Berlim, e colocando uma mochila nas costas para ir de carona até à região de Barcelona, onde ficou durante 12 meses longe das facilidades do consumo, de lojas e sem gastar um único centavo.

Durante um ano, a alemã Greta Taubert renunciou à sociedade de consumo. Beber, comer, usar roupas de graça, esta mulher de seus 30 anos queria testar o que aconteceria se o sistema econômico baseado no consumo acabasse.




A decisão de fazer o experimento aconteceu em uma tarde comum de domingo, na casa de seus avós, onde estavam todos ao redor de uma mesa farta, comendo as mais variadas iguarias. Ela então se deu conta que todos os membros da família que estavam sentados à mesa já haviam experimentado a falha de um sistema: seus pais formaram família, tinham empregos até 1989, quando o muro caiu, seus avós eram pequenos quando Hitler tentou construir o ‘Reich de 1000 anos’ (que, felizmente, 12 anos depois, acabou) e seus bisavós nasceram durante a monarquia. Ou seja, três gerações com três ideologias e experiências limite.

Ela então concluiu: “O que me tornou tão segura que este capitalismo ocidental com todas as suas perversões — hiper-consumismo, recursos finitos e desigualdades — deveria durar para sempre?”



Mas, se o capitalismo tivesse o mesmo fim, ela sobreviveria?
Greta percebeu que sem o principal foco do sistema, o consumo, ela não sabia fazer quase nada sozinha. Foi então que ela teve uma ideia: ensaiar por um ano como seria a vida sem gastar absolutamente nada. Decidiu tirar um "ano sabático" das compras, e passou a aprender como fazer tudo na vida: desde matar um animal para comer até fabricar os próprios móveis e plantar.

"Minha experiência era sobre quebrar as correntes da sociedade de consumo. Pouco a pouco, queria conquistar minha independência da indústria, da publicidade e do capital",

A reação da família foi de total desaprovação, argumentando que esta geração não está acostumada a viver com problemas existenciais, não está habituada a fazer trocas, não sabe consertar coisas, plantar e colher para ser auto-suficiente: tudo o que sabe é ir ao supermercado e comprar, o que a torna totalmente dependente. Com isso, consumimos, consumimos e consumimos.



Durante o ano que passou fora do mundo do consumo, Greta perdeu 20 quilos, seguiu uma comunidade de 30 agricultores, com a qual aprendeu a plantar seus próprios alimentos, aprendeu a caçar, pescar, construir móveis, conseguiu roupas usadas em forma de escambo, e conseguiu frutas e legumes que os supermercados consideram “feias demais” para serem vendidas. Aprendeu inclusive a preparar seu próprio xampú, desodorante, creme para o rosto e creme dental, tudo 100% orgânico.

Uma de suas grandes descobertas e aprendizados foi saber que não há um círculo fechado de pessoas que procuram uma forma alternativa de pensar e agir: “encontrei jardineiros, “hackers”, “hippies”, homens de negócios, agricultores, anarquistas, artistas, bobos… E percebi que todos tinham o mesmo desejo de se manterem unidos e resistentes a tudo o que está acontecendo.”

Toda a experiência foi relatada no livro “Apocalipse Now“, que apesar do nome aparentemente pessimista, se trata de um novo olhar para muitas possibilidades de conseguir viver em comunidade e de como isso é essencial para nosso futuro. 


Mas também fica uma conclusão certeira: “Não é possível não consumirmos. Tudo o que fazemos está ligado à sociedade de consumo. Mas podemos lutar contra o lado perverso disto: o hiper-consumismo”.

"Comecei com uma perspectiva pessimista de como o mundo ocidental entraria em colapso e eu afundaria junto. Mas quanto mais eu entrava em ação, experimentando e brincando, mais descobria a alegria de uma nova sociedade em potencial."


Visitei diferentes pessoas em diferentes partes da Alemanha: um fazendeiro autossuficiente, uma comunidade hippie, uma grupo nômade, um parque com trailers, um homem na floresta, meus avós e muito mais. Todos que pudessem ter alguma habilidade que me ajudasse a sobreviver ao fim do capitalismo ocidental. Tentei levar isso que eles me ensinaram por dias ou semanas ao meu apartamento em uma cidade alemã.

Nós realmente devemos começar a perceber que dinheiro e consumo nos separou. Todo mundo é capaz de resolver qualquer problema no mundo com dinheiro. Todo aspecto da vida foi monetarizado - até o novo “Zeitgeist“ de compartilhar. Quando você sai dessa lógica por um tempo, você experimenta uma nova riqueza esmagadora: de tempo e de comunidade.



"O nosso sistema econômico está baseado na perspetiva de crescimento infinito, mas o nosso mundo ecológico está limitado, o mantra do ‘mais, mais e mais’ não vai nos levar muito longe” , afirmou.

A sociedade ocidental moderna estabeleceu um exemplo ruim para o mundo. Criamos um ideal no qual uma boa vida é resultado de um consumo massivo. Esse modelo se espalhou pelo planeta. Se as mais de seis bilhões de pessoas do mundo perseguem este ideal de consumo, então, estamos condenados. Isso é uma declaração científica: nosso planeta não pode consumir nesta proporção, especialmente com uma população em crescimento. Esse é um ideal materialista, sempre olhando para fora em busca de felicidade. Valores e estilos de vidas materialistas estão entrelaçados.

O século XX foi um grande experimento para o materialismo, em alguns aspectos, foi um sucesso, como na medicina, no transporte etc. Mas o mesmo século testemunhou a maior luta entre os homens. 




Nunca demonstramos tamanha crueldade contra nós e contra o meio ambiente. Neste momento, podemos estar cavando os túmulos de nossa espécie, pois o que está ocorrendo é uma receita para o suicídio. Precisamos encontrar um novo ideal, uma nova visão, e isso é impossível se uma ideologia se impõe à outra forçando uma solução. Vivemos em um mundo pluralista, as pessoas não querem seguir apenas uma ideologia. Para pensarmos em sustentabilidade, temos de fazer duas perguntas: como podemos sobreviver e como podemos florescer, pois não estamos no mundo apenas pela sobrevivência.

Vivemos em um mundo com muitas tarefas a serem feitas, no qual somos bombardeados por estímulos de consumo, que não se restringem ao Ocidente. O ritmo da vida está muito rápido e complexo, então, a fragmentação da mente está se tornando comum. 



O budismo tem métodos eficazes, comprovados cientificamente, que ajudam a gerar uma melhor postura interna da atenção. Dessa forma, podemos nos concentrar sem ficar tensos ou exaustos, com continuidade e clareza em qualquer situação da vida.

Essa habilidade é extremamente importante em qualquer empenho humano com significado, e o mundo moderno não tem quase nada para oferecer nesse sentido. A primeira intervenção são as drogas, mas elas não curam o problema. Podem ser muito úteis, mas é um fato que as drogas apenas suprimem os sintomas. 

Por isso, existem diversos treinamentos que não exigem crença religiosa para acalmar a mente, cujo propósito é nos tornar mais cientes e atenciosos com as relações internas e externas, como práticas de meditação e treinamentos mentais, que são muito eficazes. Por outro lado, somos seres de emoções, e o budismo tem práticas para regular essas emoções com o objetivo de manter um equilíbrio emocional. Não apenas lidando com ansiedades, frustrações e raiva, mas para cultivar as emoções positivas.

"Não dá para não consumir. Tudo o que fazemos está ligado à sociedade de consumo. Mas podemos trabalhar contra a perversão disso tudo: o hiperconsumo. Quando você planta sua própria cenoura, você vai comê-la mesmo que não tenham a forma perfeita e mesmo que elas não sejam as mais frescas da geladeira. Quando você faz sua própria cadeira, você provavelmente cuidará mais dela do que a que você comprou por 5 euros no Ikea (rede de lojas de móveis). E quando você descobre a alegria de permutar e reciclar, valoriza muitas coisas que foram rotuladas de lixo antes."




A força da sociedade moderna tem sido para acentuar nosso bem-estar externo, mas a ciência e a tecnologia oferecem muito pouco em termos de explorar nossos recursos internos. Nessa fixação pelo exterior, falhamos sobre o que está acontecendo por dentro. O budismo complementa a ciência moderna e a tecnologia explorando e permitindo que manifestemos nosso interior.
http://muitoalem2013.blogspot.com.br/




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