22 de nov. de 2014

A inquisição se julgava megalomaniacamente purificadora e projetava de forma paranóide sua própria sombra nos hereges que torturava e matava, em sua maioria mulheres.


A inquisição se julgava megalomaniacamente purificadora e projetava de forma paranóide sua própria sombra nos hereges que torturava e matava, em sua maioria mulheres.
 
Apesar de somente oficializada pelas bulas papais do século doze em diante, a inquisição tem suas origens remotas, na época em que se fez a redação final do Novo Testamento, marcada pela censura e reducionismo patriarcais. Os evangelhos de Tomé, de Filipe e de Maria, desenterrados junto com outros escritos gnósticos no Egito, em 1945, atribuem um papel muito relevante às mulheres na mensagem de Cristo, especialmente Maria Madalena. Ela seria uma apóstola iniciada por Jesus, sendo até mesmo a sua preferida ou sua esposa. (...)
Estes escritos descrevem também uma série de rituais dionisíacos, ligados à mulher, à natureza e ao corpo, inclusive à dança, que seriam praticados pelos apóstolos. Esta seria uma tendência dos seguidores do Cristo. 
O desenvolvimento do Cristianismo se deu através do Império Romano, eminentemente patriarcal. A conversão do império não se fez de baixo para cima, mas de cima para baixo e, por isso, a estrutura patriarcal pouco mudou com sua conversão. Continuou com uma grande base patriarcal , apesar de, daí em diante, se denominar Cristão. 
Sua conversão real, com a integração dos símbolos propostos no Mito Cristão continuou através de séculos e ainda está longe de se concluir. Isto não é surpreendente, pois na raiz deste Mito está o Arquétipo da Alteridade e, como sabemos, um arquétipo, por mais que transforme a consciência, nunca a domina totalmente pois sempre compete com muitos outros arquétipos, principalmente com os dois grandes arquétipos da psique: o Matriarcal e o Patriarcal. Eles têm um poder psicológico tão grande que a dominância de um tende a desequilibrar o Self individual ou cultural. O dinamismo matriarcal é regido pelo princípio do prazer, da sensualidade e da fertilidade. Por isso, ele é geralmente representado pelas deusas das forças da natureza. Por outro lado, o patriarcal é regido pelo princípio da ordem, do dever e do desafio das tarefas. O poder com o qual se impõe, divide a vida em polaridades altamente desiguais e exclusivamente opostas como bom ou mau, certo e errado, justo e injusto, forte e fraco, bonito e feio, sucesso e fracasso. Estas polaridades estão reunidas em sistemas lógicos e racionais. Foi este dinamismo que codificou os papeis sociais rígidos do homem e da mulher, atribuindo a ela uma condição inferior junto com a maioria das funções matriarcais. Este dinamismo é característico das guerras de conquista, das sociedades de classe com acentuada hierarquia social e rígida codificação ideológica da conduta. 
Os Arquétipos da Alteridade que coordenam o Mito Cristão são os arquétipos da anima na personalidade do homem e do animus na personalidade da mulher. Os Arquétipos da Alteridade propiciam a diferenciação e o encontro igualitário do Eu com o Outro dentro de um todo, respeitando suas diferenças. Estes são os arquétipos do amor conjugal, da verdadeira democracia, da ciência, pois neles a relação Eu/Outro tem liberdade de expressão e igualdade de direitos. 
O padrão da Alteridade é o padrão arquetípico do Mito Cristão expresso por uma mensagem de amor.(...) Outras correntes místicas como aquelas centralizadas na Cabala cultivavam o feminino místico interagindo igualitariamente com o masculino, regidas assim pelo padrão da alteridade. No Mito Cristão este padrão surge como mensagem de salvação da alma a ser buscada individual e socialmente através do amor. 
A elaboração dos símbolos no Self individual e coletivo é coordenada por arquétipos e vai aos poucos formando a identidade do Eu e do Outro na consciência. A elaboração simbólica é a atividade central da psique. 
Quanto a elaboração de algum símbolo não recebe todo o engajamento que necessita da consciência estes símbolos passam a atuar no inconsciente - atuação denominada de Sombra por Jung. A Sombra normalmente expressa símbolos de difícil aceitação moral ou que dão muito trabalho ou que ainda não tivemos tempo de lidar e compreender. Ao mesmo tempo, seu resgate é necessário para a continuação do desenvolvimento psicológico individual e coletivo. 
A Sombra patológica da Igreja em relação aos símbolos do Cristo formaram o Demônio e as Bruxas, adoecendo gravemente o funcionamento do Self coletivo da humanidade.
FONTE: O Malleus Maleficarum à luz de uma teoria simbólica da história - introdução de Carlos Amadeu Byington

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Um comentário:

  1. "Religião: o mal da humanidade e o inferno dos animais. Igrejas e templos de qualquer natureza: a pior invenção da humanidade. Jesus: a maior mentira." Maria José Nia (Vegana e Ativista pelos Direitos dos Animais.

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