23 de abr. de 2015

ACORDE, TEM UM DESCONHECIDO MANDANDO NA SUA VIDA



ACORDE, TEM UM DESCONHECIDO MANDANDO NA SUA VIDA

Vivemos semi despertos e nosso inconsciente toma muitas das nossas decisões. Como sair desse estado?

O Experimento Bargh

O modo como você anda, o quão persistente você é, qual seu nível de egoísmo e até mesmo o que você comprará no supermercado: sinto muito, mas quem decide essas coisas banais e outras tantas mais importantes não é você.

Em 1996, o psicólogo John Bargh realizou um experimento simples mas de implicações perturbadoras. Ele dividiu voluntários em dois grupos e pediu que formassem frases com palavras dadas por sua equipe. Mas um dos grupos tinha uma peculiaridade: sem perceberem, algumas dessas palavras eram relacionadas à velhice (esquecido, careca, ruga, etc). Em seguida, Bargh pedia que todos os voluntários caminhassem até outra sala, mais distante, informando que lá haveria mais testes, e cronometrava secretamente o tempo que levavam no percurso.

Por incrível que pareça, os voluntários do grupo com palavras associadas à velhice caminhavam mais lentamente que os do outro grupo, como se fossem idosos. Posteriormente, todos os voluntários disseram não ter percebido as palavras relacionadas à velhice e tampouco notado algo de pouco natural no seu próprio jeito de caminhar.

O teste foi repetido várias vezes, com rigor científico, e o resultado foi sempre o mesmo.

Até então, a ideia de que mensagens subliminares (no sentido de informações apenas percebidas pelo inconsciente de alguém) fossem capazes de realmente orientar o comportamento humano era uma espécie de “lenda urbana” da psicologia. Mas, a partir do experimento de Bargh, novas experiências foram desenvolvidas para apurar a extensão desse efeito de mensagens associativas no comportamento humano mais básico.

Em 2006, uma equipe de psicólogos publicou os resultados de um experimento chamado The Psychological Consequences of Money ("As Consequências Psicológicas do Dinheiro"). Essencialmente, se tratava de um experimento semelhante ao de John Barg, mas com palavras e símbolos relacionados ao dinheiro, que os participantes não percebiam, mas eram repassadas ao seu inconsciente.

Nesse caso, os pesquisadores constataram que os membros do grupo que receberam anteriormente mensagens subliminares associadas a dinheiro persistiam o dobro do tempo na tentativa de resolver um desafio lógico-matemático de difícil solução. Por outro lado, esses mesmos participantes se mostravam muito mais egoísta quando se tratava de ajudar os colegas, ainda que a ajuda não os prejudicasse.

Ou seja, quando as pessoas estão rotineiramente submetidas a um contexto social em que o dinheiro é um assunto onipresente, elas se tornam mais determinadas, mas ao mesmo tempo mais individualistas.

Também em 2006, outro experimento demonstrou que um grupo de pessoas orientado a pensar em atos vergonhosos de seu passado antes de participar de um jogo de palavras tendia a escolher, no jogo, palavras associadas com limpeza. Esse teste progrediu para outro em que parte dos voluntários deveriam imaginar estarem praticando um homicídio - tal grupo, em uma posterior simulação de compra no supermercado, adquiriu mais produtos de limpeza (sabão, detergente, etc.) que os demais participantes.

A um resultado semelhante chegou o mundialmente aclamado neurologista António Damásio. Em 1996, ele desenvolveu uma série de testes que comprovaram que o ser humano não toma decisões racionais mesmo que o contexto exija racionalidade. Segundo a pesquisa de Damásio, tomamos decisões inconscientemente motivados por emoções e, disfarçando esse fato para nós mesmos, criamos justificativas aparentemente racionais para essas escolhas. Quando questionados, os indivíduos sinceramente afirmavam que sua escolha foi pautada por considerações racionais, mas Damásio desenvolveu uma espécie de jogo capaz de revelar quando, na verdade, as decisões eram tomadas por emoções.

Dezenas de outros experimentos similares estão sendo documentados nos últimos tempos, todos realizados e repetidos o número suficiente de vezes para serem validados segundo criteriosos parâmetros científicos. E em todos eles, os participantes afirmaram ao final não terem percebido as mensagens subliminares que influenciaram seu comportamento.

Todas essas pesquisas demonstram, de forma sólida e objetiva, que o pilar central das teorias psicológicas tradicionais realmente existe. Não se trata de uma pressuposição abstrata, sem fundamento: o inconsciente, aqui entendido como uma parte de nossa psique que escapa ao controle da nossa consciência, tem o poder de, frequentemente, dar a última palavra em relação ao nosso comportamento.

E a conclusão final desses experimentos bem resumida por Daniel Kahneman, psicólogo que ganhou o Nobel de economia por desenvolver uma teoria que estuda a tomada de decisão humana inclusive sob o enfoque econômico: gostamos de pensar que somos senhores de nossas atitudes e decisões, mas é um estranho quem conduz nossas vidas. 

Após falar de algumas dessas pesquisas em seu aclamado livro Rápido e Devagar, Kahneman arremata: "você acabou de ser apresentado a esse estranho que existe em você mesmo, que talvez esteja no controle sobre grande parte do que você faz, embora você raramente vislumbre isso".

E esse estranho é manipulável, facilmente influenciável. Um político habilidoso, uma agência publicitária ou mesmo um líder religioso que souber puxar as cordas certas será capaz de conduzir o seu destino como o de um marionete, por mais que você não admita isso, por mais que você se julgue especial e diferente de seus contemporâneos.

E tudo isso porque você está dormindo, neste exato momento.



Acorde.

(Heitor da Costa Cruz)




Um comentário:

  1. Uma cura para isto ?

    Vipassana - Meditação de atenção Plena.

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