19 de fev. de 2015

O mito do hímem

O público indonésio criticou a polícia de seu país após a instituição Human Rights Watch ter divulgado um relatório que mostrava que o órgão realiza “testes de virgindade” em candidatas do sexo feminino no seu processo de recrutamento. A revolta é compreensível e muitos apontaram a injustiça da prática, argumentando que é sexista, dolorosa e traumatizante. A população também aponta que a virgindade é irrelevante para a capacidade de um oficial fazer o seu dever.
Porém, poucos questionaram o aspecto mais dúbio desta prática angustiante: a validade do teste em si.

Problema global

O teste de virgindade não é exclusivo para a Indonésia. Mulheres em vários países são obrigadas a suportá-lo por razões que muitas vezes nada têm a ver com seus interesses. Turquia, Egito, Marrocos e Iraque, para citar alguns, tiveram seu quinhão do controverso teste de virgindade. Em um caso turco do início de 1990, uma estudante cometeu suicídio depois de passar por um teste de virgindade instruído pelo diretor de sua escola.
A forma como ele é feito pode variar de um lugar para outro. No caso da Polícia Nacional da Indonésia, é realizado o “teste de dois dedos”. Em alguns lugares do Iraque, o exame é visual. A mulher é considerada virgem quando não há nenhum sinal visível de “defeito” no seu hímen.
Contudo, não importa o método, há dois aspectos frequentemente utilizados para determinar a virgindade de uma mulher: hímen intacto e abertura vaginal apertada – nenhum dos dois é uma base confiável para tal conclusão.

A lenda do hímen

O hímen é uma membrana no canal vaginal e ainda não há um consenso sobre a sua função. Muitos acreditam que ele simplesmente não tem utilidade alguma para o corpo da mulher.
Se a função desta membrana é considerada um mistério, a forma do seu estado virgem é um dos maiores mitos médicos existentes. Muitos acreditam que um hímen virgem se assemelha ou a uma membrana em forma de balão que cobre o canal vaginal, ou um pedaço de carne em forma de anel com uma borda lisa.
Alguns acreditam que qualquer perturbação resultará na ruptura do hímen. Por isso, não é incomum aconselhar mulheres a terem cuidado ao andar de bicicleta ou ao usar absorventes internos.
Na realidade, ele mais parece – usando as palavras de um médico que frequentemente realiza reconstrução do hímen – as pétalas de uma flor. Tem entalhes, pregas e fendas, mesmo em seu estado virgem, sendo flexível e com diferentes densidades. Alguns hímens são finos e alguns são mais espessos do que outros.
No caso de uma penetração, o hímen pode ser rompido. No entanto, em muitas vezes, ele se estende e é deixado intacto.
É por isso que sexólogos, ginecologistas e clínicos gerais muitas vezes relutam quando devem opinar se uma mulher é virgem ou não com base na condição de seu hímen. Médicos na Holanda se resumem à seguinte resposta: “Não há indícios que sugerem que a mulher em questão não é mais virgem”.

Suposição equivocada

O segundo aspecto que é frequentemente checado é o aperto da vagina. Há uma crença generalizada de que uma mulher que é sexualmente intocada tem uma abertura vaginal apertada por causa do hímen intacto e que um homem pode discernir isto durante a relação sexual.
Esta é uma suposição equivocada, já que o diâmetro da vagina não é consequência desta membrana, e sim resultado da contração do músculo do pavimento pélvico. Quanto mais ele for contraído, mais estreito o canal vaginal é.
Ainda é importante ressaltar que quando uma mulher está se sentindo ansiosa, principalmente no sexo, ela tensiona automaticamente esta região do corpo. Muitos médicos atribuem a isso o fato de uma mulher virgem ser frequentemente considerada “estreita” por seu parceiro.

Mais fábula do que fato

Qualquer tipo de teste de virgindade que se baseia na observação do hímen ou do aperto da vagina não é conclusivo, na melhor das hipóteses, ou é completamente inválido. A crença de que é mais fácil discernir o estado virgem de uma mulher do que de um homem é mais uma fábula que um fato científico. Infelizmente, é uma fábula na qual ainda se acredita e que é usada para subjugar as mulheres.
Ninguém deve ser obrigado a suportar tal questionamento, independentemente da confiabilidade do exame.
E isso que não entramos no mérito de questionar a validade do conceito de virgindade e o que ele representa. Afinal, levar em conta apenas o estado da vagina exclui outros tipos de sexo, como o oral e o anal, muito provavelmente por serem considerados historicamente “degradantes” e “impuros”, especialmente para as mulheres. Não há conceito universal claro de virgindade, e as pessoas deveriam poder definir marcadores significativos de intimidade por si próprias. Mas isso é assunto para outro texto. 

http://hypescience.com/


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