"Apenas de forma parcial é que existe uma verdade nisso......quanto a algumas características ou virtudes pode ser, mas quanto a esse tipo de crença jamais sou ele hoje ou vice e versa.
Galileu Galilei foi o que foi em seu tempo, deixando um legado incrível por gerações, porém eu Sou o que SOU em meu próprio tempo e lugar nessa vida, onde terei o meu próprio legado por eras. Esse Sou Eu, essa é a minha assinatura." (Renato Brito)
Galileu Galilei foi o que foi em seu tempo, deixando um legado incrível por gerações, porém eu Sou o que SOU em meu próprio tempo e lugar nessa vida, onde terei o meu próprio legado por eras. Esse Sou Eu, essa é a minha assinatura." (Renato Brito)
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Se eu tivesse morrido há quarenta anos, hoje, não seria mais do que uma doce e saudosa memória.
Meus pais guardariam lembranças do menino que nasceu, mas a febre, a convulsão, o fim tão precoce cavaram um buraco absoluto.
Acho que jamais conseguiriam sair. Para minha mãe teria sido pior. Meu pai encontraria um jeito para diminuir o sofrimento e tocaria a vida. Minha mãe não. Certamente iria se culpar para sempre.
Nas datas do meu aniversário pensaria em como eu estaria em cada fase.
Aquele nariz mais pontudo teria diminuído? As mãos tão maiores do que as dos outros bebês ainda seriam grandes? Como seria a voz dele? Será que optaria pelo direito, como o pai?
O mundo não sentiria minha falta e as pessoas que se relacionaram comigo até aqui seriam diferentes porque uma peça faltaria em suas vidas.
Nenhuma saberia disso, ninguém imaginaria que o bebê que morreu, se crescesse, seria amigo, marido, pai, colega, enfim, essas coisas que viramos se não morremos tão cedo.
Aquele espaço ocupado por nossa maturidade seria vazio, ou talvez ocupado por outra pessoa que cresceu sem a menor consciência de que, quando alguém morre e deixa de ser o que potencialmente seria, outro assume.
Ninguém fica sabendo. Acreditam piamente que usufruem o tal livre arbítrio, mas é arbítrio, não livre.
Talvez esse outro que ficaria em meu lugar seria amigo dos meus pais, casaria com minha esposa, fosse pai do meu filho.
Talvez goste do que gosto de comer e se irrite com barulho de mastigação. Pode ser que tenha as mesmas manias que eu.
Essa pessoa jamais saberá que veio porque fui.
Nem que os espaços que ocupa seriam originalmente ocupados por mim, se não tivesse morrido há quarenta anos.
Mas não morri e viverei sem saber se minha teoria faz sentido e, pior, se os espaços que chamo de meus só são ocupados por mim porque alguém que se foi antes que eu chegasse não teve tempo de ocupá-los.
Melhor pensar que quando vamos embora os espaços ficam vazios, que o mundo inteiro muda de alguma maneira e que as pessoas que deixaram de nos conhecer viverão um pouco mais tristes, como se algo faltasse, como se um vazio esquisito, permanente, provocasse nostalgia não se sabe do que.
Pensando bem é possível que essa seja a causa de nossas tristezas inexplicáveis.
Vivemos entre espaços vazios e lamentamos a falta dos que nunca conhecemos.
É possível que alguns não conseguiram nascer, outros, quem sabe, foram embora sem tempo para que espaços fossem ocupados.
Deixaram saudades nos pais e nos outros deixaram vazios.
Ausência do que precede presenças.
Ausência dos que nem chegaram ou foram embora há muito tempo, quem sabe, há quarenta anos.
Meus pais guardariam lembranças do menino que nasceu, mas a febre, a convulsão, o fim tão precoce cavaram um buraco absoluto.
Acho que jamais conseguiriam sair. Para minha mãe teria sido pior. Meu pai encontraria um jeito para diminuir o sofrimento e tocaria a vida. Minha mãe não. Certamente iria se culpar para sempre.
Nas datas do meu aniversário pensaria em como eu estaria em cada fase.
Aquele nariz mais pontudo teria diminuído? As mãos tão maiores do que as dos outros bebês ainda seriam grandes? Como seria a voz dele? Será que optaria pelo direito, como o pai?
O mundo não sentiria minha falta e as pessoas que se relacionaram comigo até aqui seriam diferentes porque uma peça faltaria em suas vidas.
Nenhuma saberia disso, ninguém imaginaria que o bebê que morreu, se crescesse, seria amigo, marido, pai, colega, enfim, essas coisas que viramos se não morremos tão cedo.
Aquele espaço ocupado por nossa maturidade seria vazio, ou talvez ocupado por outra pessoa que cresceu sem a menor consciência de que, quando alguém morre e deixa de ser o que potencialmente seria, outro assume.
Ninguém fica sabendo. Acreditam piamente que usufruem o tal livre arbítrio, mas é arbítrio, não livre.
Talvez esse outro que ficaria em meu lugar seria amigo dos meus pais, casaria com minha esposa, fosse pai do meu filho.
Talvez goste do que gosto de comer e se irrite com barulho de mastigação. Pode ser que tenha as mesmas manias que eu.
Essa pessoa jamais saberá que veio porque fui.
Nem que os espaços que ocupa seriam originalmente ocupados por mim, se não tivesse morrido há quarenta anos.
Mas não morri e viverei sem saber se minha teoria faz sentido e, pior, se os espaços que chamo de meus só são ocupados por mim porque alguém que se foi antes que eu chegasse não teve tempo de ocupá-los.
Melhor pensar que quando vamos embora os espaços ficam vazios, que o mundo inteiro muda de alguma maneira e que as pessoas que deixaram de nos conhecer viverão um pouco mais tristes, como se algo faltasse, como se um vazio esquisito, permanente, provocasse nostalgia não se sabe do que.
Pensando bem é possível que essa seja a causa de nossas tristezas inexplicáveis.
Vivemos entre espaços vazios e lamentamos a falta dos que nunca conhecemos.
É possível que alguns não conseguiram nascer, outros, quem sabe, foram embora sem tempo para que espaços fossem ocupados.
Deixaram saudades nos pais e nos outros deixaram vazios.
Ausência do que precede presenças.
Ausência dos que nem chegaram ou foram embora há muito tempo, quem sabe, há quarenta anos.
Por Flávio Siqueira
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