11 de mai. de 2014

CADA CADEIRA EM ESTÁDIO DA COPA PAGARIA DESPESAS DE QUASE SEIS ALUNOS POR ANO

Posted by Liberte Sua Mente on domingo, 11 Maio, 2014



Os protestos contra os gastos do governo com a Copa do Mundo, que será organizada no Brasil a partir de junho, trouxeram à tona o clamor da população pelo aumento do investimento em educação. Cartazes com frases como “Quantas escolas valem um Maracanã” ou “Não quero a Copa, quero saúde e educação” têm sido avistados nos atos de rua organizados no País.

A crítica é justificável. O governo federal prevê que o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) deverá repassar para as escolas pouco mais de R$ 2.285,57 por aluno do ensino fundamental em 2014. 

No ano passado, o gasto mínimo por aluno da educação básica pública foi de R$ 2.287,87, segundo portaria divulgada pelo MEC (Ministério da Educação) no DOU (Diário Oficial da União) da última terça-feira (29). 

Fazendo uma comparação com um levantamento da ONG dinamarquesa Play The Game, que estimou que cada assento dos estádios da Copa no Brasil custará R$ 13.500 (US$ 5.800), é possível determinar que o dinheiro gasto por assento paga as despesas anuais de quase 6 estudantes. 

Além disso, se os R$ 25,7 bilhões usados na organização da Copa [dado do portal da transparência] tivessem sido aplicados nas escolas, o País poderia promover o acesso de todos os alunos que estão fora das creches e do ensino médio. A ONG Todos pela Educação apontou que o Brasil tinha pouco mais de 3 milhões de crianças na faixa etária que vai dos 4 aos 17 anos fora das instituições de ensino no ano passado. 

O valor necessário para criar todas essas vagas seria de R$ 11,7 bilhões nas creches e R$ 4,7 bilhões no ensino médio, de acordo com dados de 2012 do CAQi (Custo Aluno Qualidade Inicial) da ONG Todos pela Educação. O levantamento determina qual o investimento necessário para promover o acesso e a qualidade de ensino no País. 

Qualidade e investimento em infraestrutura

Além da inclusão, o CAQi apontou que cada aluno matriculados nas creches em tempo integral deveriam receber R$ 8.288,28 de investimento do governo por ano. Em 2013, porém, o Fundeb destinou R$ 2.285 por aluno destas unidades. No ensino médio a diferença também aponta um aporte menor. Foram empregados cerca de R$ 2.500 por aluno enquanto o índice de qualidade determinava investimento de pouco mais de R$ 3.000. 

Especialistas consultados pelo R7 foram unânimes ao constatar que a educação tem recursos insuficientes. Para José Marcelino de Rezende Pinto, professor de política educacional da USP (Universidade de São Paulo), o dinheiro da Copa deveria ter sido aplicado em projetos para melhorar a infraestrutura das escolas brasileiras. 

— Os estádios de Manaus, Brasília e Cuiabá, por exemplo, foram construídos para um evento que vai durar cerca de 30 dias. Depois eles correm o risco de se tornarem verdadeiros “elefantes brancos”. Este dinheiro deveria ter sido usado para melhorar milhares de escolas. Hoje, menos de 1% dos colégios brasileiros funcionam em condições ideais.

O dado citado pelo professor veio de um estudo realizado pelos pesquisadores Joaquim José Soares Neto, Girlene Ribeiro de Jesus e Camila Akemi Karino, da UnB (Universidade de Brasília), e Dalton Francisco de Andrade, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). 

Juntos, eles criaram uma escala para medir a qualidade da infraestrutura escolar a partir de dados divulgados pelo Censo Escolar 2011 do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), com informações de 194.932 colégios da rede pública e privada, de áreas rurais e urbanas. 

Hoje apenas 0,6% das unidades de ensino no País apresentam condições avançadas, ou seja, prédios com sala de professores, biblioteca, laboratório de informática, quadra esportiva, parque infantil, laboratório de ciências e áreas adequadas para atender a estudantes com necessidades especiais. 

A maioria dos colégios (84,5%) tem apenas o que os pesquisadores classificaram como estruturas elementares ou básicas: água, banheiro, energia, esgoto, cozinha, sala de diretoria e equipamentos como TV, DVD, computadores e impressora. O professor da UnB e ex-diretor do Inep, Joaquim José Soares Neto, explicou que a constatação mais preocupante da escala foi a descoberta de que 44% das escolas funcionam em condições elementares, ou seja, em prédios quase sem equipamentos ou recursos para atender os alunos. 

Elas representam quase metade das unidades de ensino e atendem, no geral, alunos da pré-escola até o nono ano que vivem em municípios pequenos ou na área rural. 

— Descobrimos que quase sete milhões de brasileiros, ou seja, 13% dos alunos, estudam em locais com infraestrutura elementar. A quantidade de estudantes que enfrentam condições mínimas de infraestrutura pode parecer baixa, mas é igual a da população da Suécia. Isso é muito preocupante. 

Neto explica que o problema do financiamento da educação é muito complexo e que fazer uma comparação com os recursos empregados na Copa pode ser um caminho inadequado. Para ele, antes de polemizar se é corretor usar recursos para sediar grandes eventos esportivos, é preciso pensar maneiras de resolver os problemas e determinar uma nova política de investimento nas escolas. 

Mesmo assim, o especialista foi enfático ao frisar que o dinheiro aplicado pelo governo na área da educação está muito abaixo do necessário.

Alexandre Saconi e Maria Carolina de Ré, do R7
Editado por Folha Política

http://julearauju.blogspot.com.br

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