31 de mar. de 2014

Amor e meditação

Posted by Liberte Sua Mente on segunda-feira, 31 Março, 2014

O dia 11 de junho de 1979 havia chegado e o Ashram estava lotado aguardando o início de mais uma série de palestras do Osho em inglês. Desde o final de 1978 havia uma expectativa no ar pois dizia-se que ele iria falar sobre "O Dhammapada", a essência dos ensinamentos de Buda. Às 8 horas, quando se esperava a chegada de Osho, foi anunciado que ele não estava bem de saúde e que não viria. Dez dias se passaram desde então e somente no dia 21 de junho, Osho voltou a falar. Foi quando ele deu início à série de palestras sobre "O Dhammapada". Havia sido uma longa ausência, a mais longa desde junho de 1974.
O texto que traduzimos abaixo é parte do primeiro discurso da série sobre "O Dhammapada".

"........O ódio existe com o passado e com o futuro, enquanto o amor não precisa nem de passado nem de futuro. O amor existe no presente. O ódio tem uma referência no passado. Alguém abusou de você ontem e você está carregando isso como uma ferida, como uma ressaca. Ou pode ser que você esteja com medo de que alguém vá abusar de você amanhã, um medo, uma sombra de medo. E você já começa a se aprontar, começa a se preparar para ir de encontro à situação.
O ódio existe com o passado e com o futuro. Você não pode odiar no presente. Tente e você se sentirá completamente impotente. Tente isso hoje: sente-se em silêncio e odeie alguém no presente, sem qualquer referência ao passado ou ao futuro... você não consegue fazer isso. Isso não pode ser feito. Pela própria natureza das coisas, isso é impossível. O ódio só pode existir se você se lembrar do passado - esse homem fez alguma coisa com você ontem - aí o ódio é possível. Ou esse homem vai fazer alguma coisa com você amanhã - aí também o ódio é possível. Mas se você não tiver qualquer referência com o passado ou com o futuro - esse homem nada fez a você e nem vai fazer, esse homem está simplesmente sentado ali. Como você pode odiar? Mas você pode amar.
O amor não necessita de qualquer referência. Essa é a beleza do amor e a liberdade do amor. O ódio é uma escravidão. O ódio é uma prisão imposta por você a si mesmo. E o ódio cria ódio, o ódio provoca ódio. Se você odeia alguém, você está criando ódio no coração daquela pessoa contra você mesmo. E todo o mundo existe em torno do ódio, da destruição, da violência, da inveja, da competição. As pessoas estão cada qual atracadas no pescoço umas das outras, ou de verdade, na ação, ou pelo menos na mente. Em seus pensamentos todo mundo está matando, assassinando. É por isso que nós criamos um inferno em cima desta linda terra, que poderia ter se tornado um paraíso.
Ame e a terra se torna um paraíso novamente. E a imensa beleza do amor é que ele é, sem qualquer referência. O amor brota em você, sem qualquer razão. É a sua felicidade transbordando, é o seu coração compartilhado. É o compartilhar da canção do seu ser. E compartilhar é um ato tão cheio de alegria, que a pessoa compartilha. Compartilhar por ser bom compartilhar, por nenhum outro motivo.
Mas o amor que você conheceu no passado não é o amor do qual Buda está falando ou que eu estou falando. O seu amor nada mais é do que o outro lado do ódio. Então o seu amor tem referência. Alguém foi tão belo com você ontem, ele estava tão bom que você está sentindo um grande amor por ele. Isso não é amor. Isso é o outro lado do ódio. A prova disso é a referência. Ou alguém será bom para você amanhã, o jeito como ele sorri para você, o jeito como ele fala com você, o jeito como ele convidou você para ir à casa dele amanhã, ele será muito amável com você. E um grande amor desabrocha.
Esse não é o amor do qual Buda fala. Isso é ódio disfarçado em amor. É por isso que o seu amor pode se transformar em ódio a qualquer momento. Arranhe uma pessoa só um pouquinho e o amor desaparecerá e o ódio crescerá. Ele não é amor nem de raspão. Mesmo os chamados grandes amantes estão continuamente lutando, continuamente no pescoço dos outros, ranzinzas, destrutivos. E as pessoas pensam que isso é amor...
O seu amor não é realmente amor, ele é o seu oposto. Ele é ódio disfarçado em amor, camuflado como amor, exibindo-se como amor. O verdadeiro amor é sem referências. Ele não pensa sobre o ontem nem sobre o amanhã. O verdadeiro amor é um espontâneo jorrar de alegria em você... e o compartilhar isso... e derramar isso... pela simples alegria de compartilhar, sem qualquer outra razão, sem qualquer outro motivo.
Os pássaros cantando de manhã, esse cuco cantando lá longe... sem qualquer razão. O coração está simplesmente cheio de alegria e uma canção explode. Quando eu estou falando sobre o amor, eu estou falando sobre esse amor. Lembre-se disso. E se você puder entrar na dimensão desse amor, você estará no paraíso, imediatamente. E você começará a criar um paraíso na terra.
O amor cria amor, assim como o ódio cria ódio.
........O ódio nunca dissolve o ódio, a escuridão não pode dissolver a escuridão. Somente o amor dissolve o ódio, somente a luz pode dissolver a escuridão. Essa é a lei. O amor é luz, a luz de seu ser; e o ódio é a escuridão de seu ser. Se você estiver escuro por dentro, você vai sair lançando ódio por todos os lados. Se você tiver luz dentro, então você irá irradiar luz ao seu redor.
Ais dhammo sanantano...
Buda sempre repete isso. Essa é a eterna lei. Qual é a eterna lei? A que somente o amor dissolve o ódio, somente a luz dissolve a escuridão. Por que? Porque a escuridão em si mesma é apenas um estado negativo, ela não tem qualquer existência positiva. Ela não existe na verdade. Como você pode dissolvê-la? Você não consegue fazer coisa alguma diretamente com a escuridão. Se você quiser fazer alguma coisa com a escuridão, você terá que fazer com a luz. Traga a luz para dentro e a escuridão irá embora. Leve a luz para fora e escuridão entrará. Mas você não poderá trazer escuridão para dentro ou para fora diretamente, você não pode fazer coisa alguma com a escuridão.
Lembre-se de que você também não pode fazer coisa alguma com o ódio e essa é a diferença entre os professores da moral e os místicos religiosos. Os professores da moral seguem propondo a lei falsa. Eles propõem 'luta contra a escuridão, luta contra o ódio, luta contra a raiva, luta contra o sexo, luta contra isso, luta contra aquilo'. Toda a abordagem deles é 'luta contra o negativo', enquanto o verdadeiro e real mestre ensina a você a lei positiva: Ais dhammo sanantano, a lei eterna, 'não lute contra a escuridão'. E o ódio é escuridão, o sexo é escuridão, o ciúme é escuridão, a cobiça é escuridão e a raiva é escuridão.
Traga a luz para dentro...
Como a luz pode ser trazida para dentro? Torne-se silencioso, sem pensamentos, consciente, alerta, atento, desperto.... É assim que a luz é trazida para dentro. E no momento em que você estiver alerta e consciente, o ódio não será encontrado.Tente odiar alguém com consciência..... Esses são experimentos a serem feitos, não apenas palavras a serem entendidas, experimentos a serem feitos. É por isso que eu digo: não tente entender apenas intelectualmente, torne-se um experimentador existencial. Tente odiar alguém conscientemente e verá que isso é impossível. Ou a consciência desaparece e então você poderá odiar, ou, se você estiver consciente, o ódio desaparecerá. Eles não podem existir juntos. Não existe coexistência possível, a luz e a escuridão não podem existir juntas, porque a escuridão nada mais é que ausência de luz.
Os verdadeiros mestres ensinam a alcançar Deus, eles nunca lhe dizem para renunciar ao mundo. Renúncia é negativo. Eles nunca lhe dizem para escapar do mundo, eles lhe ensinam ir para Deus. Eles ensinam a você alcançar a verdade, não lutar contra as mentiras. E as mentiras são milhões. Se você for lutar contra elas, isso levará milhões de vidas e nada será alcançado. E a verdade é uma, e ela pode ser alcançada instantaneamente, neste exato momento é possível....
A vida é tão curta, tão momentânea... E você a está desperdiçando em discussões? Use toda a energia para meditação. É a mesma energia. Você pode brigar com ela ou você pode se tornar uma luz através dela...
Buda diz: Lembre-se, se você depende de seus sentidos, você permanecerá muito frágil, porque os sentidos não podem lhe dar força. Eles não lhe podem dar força porque eles não podem lhe dar uma base constante. Eles estão constantemente num fluxo, tudo está mudando. Onde você pode ter um abrigo? Onde você pode construir uma base?
Num momento esta mulher parece linda, num outro momento é uma outra mulher. Se você decidir pelos sentidos, você estará num constante caos, você não pode decidir porque os sentidos seguem mudando suas opiniões. Num momento uma coisa parece tão incrível, e num momento seguinte, ela é simplesmente feia, insuportável. E nós dependemos desses sentidos.
Buda diz: Não dependa dos sentidos, dependa da consciência. Consciência é alguma coisa escondida atrás dos sentidos. Não são os olhos que vêem. Se você for a um especialista em olhos ele irá dizer que são os olhos que vêem, mas isso não é verdade. O olho é apenas um mecanismo, através dele alguém vê. O olho é apenas uma janela e a janela não pode ver. Quando você se coloca diante de uma janela, você pode olhar para fora. Alguém que passa pela rua pode pensar: 'a janela está me vendo'. O olho é apenas uma janela, uma abertura. Quem está por trás dos olhos?
O ouvido não ouve, quem está por trás do ouvido? Quem ouve? Quem sente? Siga pesquisando isso e você encontrará alguma base, de outra forma, sua vida será apenas uma folha seca ao vento....
A meditação fará você desperto, forte e humilde. A meditação fará você desperto porque ela dará a você a primeira experiência de si mesmo. Você não é o corpo e você não é a mente. Você é pura consciência presenciando, testemunhando. E quando essa consciência que testemunha é tocada, um grande despertar acontece, como se uma cobra estivesse quieta enroscada e de repente desse um bote, como se alguém estivesse dormindo e tivesse sido chacoalhado e despertasse. De repente, há um grande despertar interno. Pela primeira vez você sente que você é. Pela primeira vez você sente a verdade de seu ser.
E certamente isso faz você forte, você não é mais frágil, não como uma árvore fraca que qualquer vento curva. Agora você se tornou uma montanha. Agora você tem uma base, agora você está enraizado, nenhum vento pode curvar a montanha. Você se torna desperto, você se torna forte e ainda, você se torna humilde. Essa força não traz qualquer ego para você. Você se torna humilde porque você se torna consciente de que a mesma alma que testemunha existe em todo mundo, mesmo em animais, pássaros, plantas, rochas. Essas são apenas maneiras diferentes de dormir. Algumas pessoas dormem para o lado direito, algumas pessoas dormem para o lado esquerdo e algumas pessoas dormem de costas... Essas são maneiras diferentes de dormir. Uma rocha tem sua maneira própria de dormir, uma árvore, uma maneira diferente de dormir, um pássaro, uma maneira ainda diferente. Mas são apenas diferenças nas maneiras e nos métodos de dormir. Fora isso, mais profundamente, no centro de todo ser, está o mesmo testemunhar, o mesmo Deus. Isso faz você humilde, por que mesmo diante de uma rocha você sabe que você não é ninguém especial, por que toda a existência é feita da mesma substância chamada consciência. E se você estiver desperto, forte e humilde, você se torna mestre de si mesmo....."

OSHO - The Book of the Books - Volume I
Palestras sobre O Dhammapada, de Gautama, o Buda
tradução: Sw.Bodhi Champak
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.

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