A louca vida de Cazuza, que desde criança gostava de pôr fogo em tudo. Ele dizia que amar era sinônimo de sofrer e amou homens e mulheres com a mesma intensidade
Cláudia de Castro Lima
Caju: fique livre do mundo, aproveite a dor, ame de olhos fechados e se divirta na Terra. Cazuza.
A dedicatória é dele para ele mesmo, feita na agenda de 1989, sua última – com anotações só até o mês de maio, quando ainda tinha forças para escrever. As palavras são também emblemáticas. Aclamado como o poeta de uma geração, Cazuza era um exagerado no amor, na vida e na morte. Para ele, era tudo ou nunca mais.
Caju era o “apelido do apelido” de Agenor de Araújo Neto, filho único do casal Lucinha e João Araújo. Ainda na barriga da mãe, o pai começou a chamá-lo de Cazuza – palavra que, no Nordeste, é sinônimo de moleque. Apaixonado por mapas e geografia, Cazuza deveria ser engenheiro ou arquiteto – ao menos, era o que a mãe queria. Mas viver rodeado de artistas deve ter influenciado sua opção. O pai, presidente da gravadora Som Livre, recebia gente como Gal Costa, Elis Regina e Gilberto Gil para jantar. O pequeno Cazuza tinha uma mania: jogar álcool na privada e atear fogo. “Ele sempre quis botar fogo em tudo e foi isso o que acabou fazendo com sua vida”, disse a mãe, Lucinha, a Biografias. “Mas uma hora ele se deu conta do tamanho do incêndio e já não dava mais para apagar.”
As brigas com a mãe eram constantes. Lucinha ficou chocada ao descobrir maconha no quarto do filho quando ele tinha 15 anos. Jogou tudo fora e ouviu de um inconformado Cazuza: “Você é louca? Era maconha de primeira qualidade. Você não dá valor às coisas. Jogou dinheiro fora!”
Mais difícil para Lucinha foi quando começou a desconfiar que o filho era bissexual, depois de ler uma carta a um amigo que considerou carinhosa demais. Cazuza tinha por volta de 18 anos. Um dia, perguntou sem rodeios: “Meu filho, você é homossexual?”. Cazuza respondeu tranqüilamente: “Olha, mãe, eu não sou nem uma coisa nem outra, porque nada é definitivo na vida.
Você pode dizer que eu seja bissexual, porque não fiz minha escolha ainda. Um dia posso gostar de um homem como, no outro, gostar de uma mulher. Então não fique preocupada com isso”, escreve Lucinha em seu livro Só as Mães São Felizes, um relato sobre a vida do músico.
Lucinha diz que, apesar de serem muito próximos, Cazuza não lhe confidenciava seus casos amorosos. “Sobre muitos fiquei sabendo depois, quando os amigos dele deixavam escapar.” A primeira paixão do filho foi um desses relacionamentos que ela soube por acaso. Foi aos 17 anos, com uma vizinha do Leblon. Certa tarde, Cazuza pediu dinheiro à mãe para pagar um raio X que um médico havia pedido. Dias depois, Lucinha recebeu um telefonema de uma clínica cobrando pelo raio X. Colocou Cazuza contra a parede e descobriu que o dinheiro tinha sido usado para pagar um aborto da namorada.
Outra namorada de Cazuza foi a produtora de eventos Patrícia Casé, irmã da atriz Regina Casé. No início dos anos 80, Cazuza morou seis meses com Patrícia. “Eu era a careta da turma, a chata que regulava. Por isso, acho que a Lucinha gostava tanto de mim”, disse Patrícia a Biografias. Mas viver junto era difícil. A casa vivia cheia de gente, enchia-se a geladeira de manhã e, à noite, não tinha mais nada. Os dois brigaram e ficaram três meses sem se falar. Cazuza lhe escreveu um bilhete de adeus: “Você me ama ao cubo e eu te amo ao quadrado. Não posso te dar menos do que você merece.”
Cazuza teve, em seguida, uma paixão fulminante pelo cantor Ney Matogrosso. Os dois se viram pela primeira vez na praia do Leblon. Dias depois, ele foi à casa de Ney com uma amiga. “Conversamos e depois disso vivemos uma história durante meses. Foi um grande amor mesmo. Ele era encantador e apaixonante. Não tinha absolutamente nenhuma agressividade, era um anjo caído do céu. E eu fiquei apaixonado de perder a direção”, diz Ney em Só as Mães São Felizes. O relacionamento acabou, de acordo com Ney, por pura insegurança de Cazuza. “Acho que ele tinha muito medo do rumo que a nossa história estava tomando e de que o relacionamento poderia exigir mais dedicação, mais compromisso.” Lucinha confirma o temor do filho: “Cazuza não se entregava ao amor. Tinha medo de se machucar. Dizia para mim que amar queria dizer sofrer. E ele não tinha vocação para sofrimento”. Após sumir por alguns dias, Cazuza reapareceu com outro cara – e Ney e ele discutiram. “Cazuza cuspiu em mim e eu o expulsei. Mas ficou para sempre uma relação muito bonita entre nós, para o resto da vida.”
Depois de Ney, Cazuza viveu sua relação mais duradoura. Foi com o ator Sergio Dias, conhecido como Sergi-nho. “Ele foi a pessoa que mais entendeu o Cazuza, em todos os aspectos”, diz Patrícia Casé. O amor entre Cazuza e Serginho durou quatro anos. “A relação não tinha nenhum preceito de fidelidade monogâmica”, afirma Victor Navas, um dos roteiristas de Cazuza, o Tempo Não Pára, filme que entrou em cartaz em junho. Em relatos informais de amigos de Cazuza, Navas descobriu que o músico não tinha preconceitos. “Participava de relações com seis pessoas ao mesmo tempo. Muitas vezes, não havia sexo, apenas carícias – e muitas drogas.”
Cazuza também teve uma paixão forte pela atriz Denise Dumont. Lucinha conta em seu livro que reencontrou Denise tempos depois, com uma filhinha no colo, Anabella. Era este o nome que os dois pretendiam, naqueles planos típicos de jovens apaixonados, dar à filha deles.
A estréia no Barão
Em 1981, Cazuza descobriu sua veia artística. Matriculou-se num curso de teatro e participou de duas peças. Numa delas, só cantava. Surpreendeu a todos e a si mesmo com seus dotes vocais. O amigo Léo Jaime o indicou para colegas que procuravam um vocalista para uma nova banda. E lá foi Cazuza conhecer, na garagem de Maurício Barros, seus futuros companheiros do Barão Vermelho: o próprio Maurício, tecladista; Guto, baterista; Dé, baixista; e Frejat, guitarrista.
A estréia do Barão aconteceu num condomínio na Barra da Tijuca. Cazuza estava de porre, com a braguilha da calça aberta. Depois da baixaria inicial, o Barão continuou a tocar em vários lugares. Uma noite, o produtor musical Ezequiel Neves ouviu uma fita de um show do Barão na casa de um amigo. Ficou louco e a levou para o amigo Guto Graça Mello, que trabalhava na Som Livre. “O Zeca chegou com uma K7 pedindo: ‘Guto, me ajuda. Não sei se isso é uma bosta ou se é sensacional!’. Achei maravilhoso e fui querer gravar no dia, antes que alguém organizasse”, lembra Guto. João Araújo relutou no início. Receava que, se não desse certo, dissessem que Cazuza só tinha sido lançado porque era filho do dono da gravadora. Mas acabou cedendo. Assim, em novembro de 1982, saiu Barão Vermelho, o primeiro disco do grupo.
Já em 1983, Ney Matogrosso resolveu incluir no repertório de seu show uma das músicas mais bacanas do Barão, “Pro Dia Nascer Feliz”. Foi o empurrão que faltava. Pouco depois, a produção do filme Bete Balanço procurou a banda para encomendar uma música. Foi aí que Cazuza e o Barão caíram definitivamente no gosto do público. Cazuza começou a ganhar dinheiro e Lucinha passou a controlar as finanças – e a entrar em pânico. Para brincar com a mãe, ele anotava nos canhotos dos cheques: maconha, pó…
Em julho de 1985, logo após ganhar o primeiro disco de ouro, Cazuza decidiu que já não dava mais para ficar com os amigos do Barão. Justificou-se dizendo que era muito egoísta para dividir o palco e as atenções. Uma semana depois da separação, foi internado com febre de 42 graus. Era 31 de julho de 1985. Cazuza pediu um exame de HIV, mas os testes imprecisos da época deram resultado negativo. No hospital, compôs uma de suas mais belas músicas, “Codinome Beija-Flor”, inspirado pela visita diária de beija-flores a seu quarto. A canção entrou no seu primeiro LP solo, lançado em novembro daquele ano, Exagerado – a música-título seria apontada pelo próprio Cazuza como a sua composição mais autobiográfica.
Em março de 1987, saiu o segundo disco solo, Só Se For a Dois. Um mês antes da estréia do show, Cazuza começou a se sentir mal e se consultou com o Dr. Abdon Issa. Às vésperas da apresentação, o médico ligou para João e Lucinha Araújo com uma notícia bombástica: “Seu filho foi tocado pela aids”. Os pais entraram em pânico. Pouco se sabia sobre a doença naquela época. Três dias depois, em 29 de abril de 1987, Cazuza recebeu a notícia. O cantor chorou no ombro do amigo Ezequiel Neves. “Zeca, eu sei que todo homem que nasce morre um dia, mas eu não mereço isso”, disse. Cazuza foi levado a Boston, nos Estados Unidos, onde as pesquisas sobre aids estavam mais avançadas. Passou a tomar AZT.
Em 1988, de volta ao Brasil, começou a compor compulsivamente. Gravou Ideologia, que trazia a música “Brasil”, tema de abertura de uma no-vela. A saúde – e o temperamento – já estava bem abalada. Num dos shows, desmaiou. Em outro, brigou com parte do público. Em 1988, foram oito viagens para Boston. Mas nem os problemas com o HIV seguravam o músico. Ele continuava sua vida boêmia, bebendo, usando drogas e transando – com camisinha, segundo dizia.
O último show de Cazuza foi em 24 de janeiro de 1989, em Recife. Ele insultou a platéia. Mais tarde, explicou seus acessos: não queria que as pessoas sentissem pena dele. Falava o que vinha à cabeça. Dizia que a culpa era do AZT, o “soro da verdade”. Em 14 de março, foi internado com hepatite. Saiu no dia 4 de abril, seu aniversário, e passou a se locomover em cadeira de rodas.
Ainda encontrou disposição para gravar Burguesia, entre abril e maio do mesmo ano. Às vezes, sem forças, colocava voz na música deitado no sofá da gravadora. Nesse período, Cazuza teve de ser internado devido a uma infecção com o citomegalovírus em Boston. Foi sua última viagem para lá. Meses depois, os médicos disseram que não havia mais o que fazer.
Em 9 de março de 1990, voltou para casa. Mas em menos de duas semanas, foi novamente internado. Pesando 38 quilos, comemorou seu 32º aniversário. Sua última aparição pública foi no aniversário de Flora Gil, mulher do cantor Gilberto Gil, em 2 de junho. Após um mês e cinco dias, não resistiu e morreu, deixando uma história de determinação e coragem. Sandra Werneck, diretora do filme Cazuza, o Tempo Não Pára, resume assim sua impressão sobre o músico:
“Cazuza era um homem apaixonado pela vida. Com ela, nutria sua poesia. E, com sua poesia, se entregava ao amor”.
“É duro dizer, mas nunca sofri mais de dez minutos por amor. Ninguém nunca mereceu minha falta de choro ou de apetite.“
(Na música “Nunca Sofri por Amor”)
“Como pode alguém ser tão demente, porra-louca e inconseqüente, e ainda assim amar?“
(Na música “Bilhetinho Azul”)
Cláudia de Castro Lima
Caju: fique livre do mundo, aproveite a dor, ame de olhos fechados e se divirta na Terra. Cazuza.
A dedicatória é dele para ele mesmo, feita na agenda de 1989, sua última – com anotações só até o mês de maio, quando ainda tinha forças para escrever. As palavras são também emblemáticas. Aclamado como o poeta de uma geração, Cazuza era um exagerado no amor, na vida e na morte. Para ele, era tudo ou nunca mais.
Caju era o “apelido do apelido” de Agenor de Araújo Neto, filho único do casal Lucinha e João Araújo. Ainda na barriga da mãe, o pai começou a chamá-lo de Cazuza – palavra que, no Nordeste, é sinônimo de moleque. Apaixonado por mapas e geografia, Cazuza deveria ser engenheiro ou arquiteto – ao menos, era o que a mãe queria. Mas viver rodeado de artistas deve ter influenciado sua opção. O pai, presidente da gravadora Som Livre, recebia gente como Gal Costa, Elis Regina e Gilberto Gil para jantar. O pequeno Cazuza tinha uma mania: jogar álcool na privada e atear fogo. “Ele sempre quis botar fogo em tudo e foi isso o que acabou fazendo com sua vida”, disse a mãe, Lucinha, a Biografias. “Mas uma hora ele se deu conta do tamanho do incêndio e já não dava mais para apagar.”
As brigas com a mãe eram constantes. Lucinha ficou chocada ao descobrir maconha no quarto do filho quando ele tinha 15 anos. Jogou tudo fora e ouviu de um inconformado Cazuza: “Você é louca? Era maconha de primeira qualidade. Você não dá valor às coisas. Jogou dinheiro fora!”
Mais difícil para Lucinha foi quando começou a desconfiar que o filho era bissexual, depois de ler uma carta a um amigo que considerou carinhosa demais. Cazuza tinha por volta de 18 anos. Um dia, perguntou sem rodeios: “Meu filho, você é homossexual?”. Cazuza respondeu tranqüilamente: “Olha, mãe, eu não sou nem uma coisa nem outra, porque nada é definitivo na vida.
Você pode dizer que eu seja bissexual, porque não fiz minha escolha ainda. Um dia posso gostar de um homem como, no outro, gostar de uma mulher. Então não fique preocupada com isso”, escreve Lucinha em seu livro Só as Mães São Felizes, um relato sobre a vida do músico.
Lucinha diz que, apesar de serem muito próximos, Cazuza não lhe confidenciava seus casos amorosos. “Sobre muitos fiquei sabendo depois, quando os amigos dele deixavam escapar.” A primeira paixão do filho foi um desses relacionamentos que ela soube por acaso. Foi aos 17 anos, com uma vizinha do Leblon. Certa tarde, Cazuza pediu dinheiro à mãe para pagar um raio X que um médico havia pedido. Dias depois, Lucinha recebeu um telefonema de uma clínica cobrando pelo raio X. Colocou Cazuza contra a parede e descobriu que o dinheiro tinha sido usado para pagar um aborto da namorada.
Outra namorada de Cazuza foi a produtora de eventos Patrícia Casé, irmã da atriz Regina Casé. No início dos anos 80, Cazuza morou seis meses com Patrícia. “Eu era a careta da turma, a chata que regulava. Por isso, acho que a Lucinha gostava tanto de mim”, disse Patrícia a Biografias. Mas viver junto era difícil. A casa vivia cheia de gente, enchia-se a geladeira de manhã e, à noite, não tinha mais nada. Os dois brigaram e ficaram três meses sem se falar. Cazuza lhe escreveu um bilhete de adeus: “Você me ama ao cubo e eu te amo ao quadrado. Não posso te dar menos do que você merece.”
Cazuza teve, em seguida, uma paixão fulminante pelo cantor Ney Matogrosso. Os dois se viram pela primeira vez na praia do Leblon. Dias depois, ele foi à casa de Ney com uma amiga. “Conversamos e depois disso vivemos uma história durante meses. Foi um grande amor mesmo. Ele era encantador e apaixonante. Não tinha absolutamente nenhuma agressividade, era um anjo caído do céu. E eu fiquei apaixonado de perder a direção”, diz Ney em Só as Mães São Felizes. O relacionamento acabou, de acordo com Ney, por pura insegurança de Cazuza. “Acho que ele tinha muito medo do rumo que a nossa história estava tomando e de que o relacionamento poderia exigir mais dedicação, mais compromisso.” Lucinha confirma o temor do filho: “Cazuza não se entregava ao amor. Tinha medo de se machucar. Dizia para mim que amar queria dizer sofrer. E ele não tinha vocação para sofrimento”. Após sumir por alguns dias, Cazuza reapareceu com outro cara – e Ney e ele discutiram. “Cazuza cuspiu em mim e eu o expulsei. Mas ficou para sempre uma relação muito bonita entre nós, para o resto da vida.”
Depois de Ney, Cazuza viveu sua relação mais duradoura. Foi com o ator Sergio Dias, conhecido como Sergi-nho. “Ele foi a pessoa que mais entendeu o Cazuza, em todos os aspectos”, diz Patrícia Casé. O amor entre Cazuza e Serginho durou quatro anos. “A relação não tinha nenhum preceito de fidelidade monogâmica”, afirma Victor Navas, um dos roteiristas de Cazuza, o Tempo Não Pára, filme que entrou em cartaz em junho. Em relatos informais de amigos de Cazuza, Navas descobriu que o músico não tinha preconceitos. “Participava de relações com seis pessoas ao mesmo tempo. Muitas vezes, não havia sexo, apenas carícias – e muitas drogas.”
Cazuza também teve uma paixão forte pela atriz Denise Dumont. Lucinha conta em seu livro que reencontrou Denise tempos depois, com uma filhinha no colo, Anabella. Era este o nome que os dois pretendiam, naqueles planos típicos de jovens apaixonados, dar à filha deles.
A estréia no Barão
Em 1981, Cazuza descobriu sua veia artística. Matriculou-se num curso de teatro e participou de duas peças. Numa delas, só cantava. Surpreendeu a todos e a si mesmo com seus dotes vocais. O amigo Léo Jaime o indicou para colegas que procuravam um vocalista para uma nova banda. E lá foi Cazuza conhecer, na garagem de Maurício Barros, seus futuros companheiros do Barão Vermelho: o próprio Maurício, tecladista; Guto, baterista; Dé, baixista; e Frejat, guitarrista.
A estréia do Barão aconteceu num condomínio na Barra da Tijuca. Cazuza estava de porre, com a braguilha da calça aberta. Depois da baixaria inicial, o Barão continuou a tocar em vários lugares. Uma noite, o produtor musical Ezequiel Neves ouviu uma fita de um show do Barão na casa de um amigo. Ficou louco e a levou para o amigo Guto Graça Mello, que trabalhava na Som Livre. “O Zeca chegou com uma K7 pedindo: ‘Guto, me ajuda. Não sei se isso é uma bosta ou se é sensacional!’. Achei maravilhoso e fui querer gravar no dia, antes que alguém organizasse”, lembra Guto. João Araújo relutou no início. Receava que, se não desse certo, dissessem que Cazuza só tinha sido lançado porque era filho do dono da gravadora. Mas acabou cedendo. Assim, em novembro de 1982, saiu Barão Vermelho, o primeiro disco do grupo.
Já em 1983, Ney Matogrosso resolveu incluir no repertório de seu show uma das músicas mais bacanas do Barão, “Pro Dia Nascer Feliz”. Foi o empurrão que faltava. Pouco depois, a produção do filme Bete Balanço procurou a banda para encomendar uma música. Foi aí que Cazuza e o Barão caíram definitivamente no gosto do público. Cazuza começou a ganhar dinheiro e Lucinha passou a controlar as finanças – e a entrar em pânico. Para brincar com a mãe, ele anotava nos canhotos dos cheques: maconha, pó…
Em julho de 1985, logo após ganhar o primeiro disco de ouro, Cazuza decidiu que já não dava mais para ficar com os amigos do Barão. Justificou-se dizendo que era muito egoísta para dividir o palco e as atenções. Uma semana depois da separação, foi internado com febre de 42 graus. Era 31 de julho de 1985. Cazuza pediu um exame de HIV, mas os testes imprecisos da época deram resultado negativo. No hospital, compôs uma de suas mais belas músicas, “Codinome Beija-Flor”, inspirado pela visita diária de beija-flores a seu quarto. A canção entrou no seu primeiro LP solo, lançado em novembro daquele ano, Exagerado – a música-título seria apontada pelo próprio Cazuza como a sua composição mais autobiográfica.
Em março de 1987, saiu o segundo disco solo, Só Se For a Dois. Um mês antes da estréia do show, Cazuza começou a se sentir mal e se consultou com o Dr. Abdon Issa. Às vésperas da apresentação, o médico ligou para João e Lucinha Araújo com uma notícia bombástica: “Seu filho foi tocado pela aids”. Os pais entraram em pânico. Pouco se sabia sobre a doença naquela época. Três dias depois, em 29 de abril de 1987, Cazuza recebeu a notícia. O cantor chorou no ombro do amigo Ezequiel Neves. “Zeca, eu sei que todo homem que nasce morre um dia, mas eu não mereço isso”, disse. Cazuza foi levado a Boston, nos Estados Unidos, onde as pesquisas sobre aids estavam mais avançadas. Passou a tomar AZT.
Em 1988, de volta ao Brasil, começou a compor compulsivamente. Gravou Ideologia, que trazia a música “Brasil”, tema de abertura de uma no-vela. A saúde – e o temperamento – já estava bem abalada. Num dos shows, desmaiou. Em outro, brigou com parte do público. Em 1988, foram oito viagens para Boston. Mas nem os problemas com o HIV seguravam o músico. Ele continuava sua vida boêmia, bebendo, usando drogas e transando – com camisinha, segundo dizia.
O último show de Cazuza foi em 24 de janeiro de 1989, em Recife. Ele insultou a platéia. Mais tarde, explicou seus acessos: não queria que as pessoas sentissem pena dele. Falava o que vinha à cabeça. Dizia que a culpa era do AZT, o “soro da verdade”. Em 14 de março, foi internado com hepatite. Saiu no dia 4 de abril, seu aniversário, e passou a se locomover em cadeira de rodas.
Ainda encontrou disposição para gravar Burguesia, entre abril e maio do mesmo ano. Às vezes, sem forças, colocava voz na música deitado no sofá da gravadora. Nesse período, Cazuza teve de ser internado devido a uma infecção com o citomegalovírus em Boston. Foi sua última viagem para lá. Meses depois, os médicos disseram que não havia mais o que fazer.
Em 9 de março de 1990, voltou para casa. Mas em menos de duas semanas, foi novamente internado. Pesando 38 quilos, comemorou seu 32º aniversário. Sua última aparição pública foi no aniversário de Flora Gil, mulher do cantor Gilberto Gil, em 2 de junho. Após um mês e cinco dias, não resistiu e morreu, deixando uma história de determinação e coragem. Sandra Werneck, diretora do filme Cazuza, o Tempo Não Pára, resume assim sua impressão sobre o músico:
“Cazuza era um homem apaixonado pela vida. Com ela, nutria sua poesia. E, com sua poesia, se entregava ao amor”.
“É duro dizer, mas nunca sofri mais de dez minutos por amor. Ninguém nunca mereceu minha falta de choro ou de apetite.“
(Na música “Nunca Sofri por Amor”)
“Como pode alguém ser tão demente, porra-louca e inconseqüente, e ainda assim amar?“
(Na música “Bilhetinho Azul”)
O tempo de Cazuza
Os fatos mais importantes na vida e na carreira do músico
Abril de 1958Nasce, às 21h15 do dia 4, Agenor de Miranda Araújo Neto, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Rio de JaneiroDezembro de 1969O pai de Cazuza, João Araújo, funda a gravadora Som LivreNovembro de 1981Maurício Bastos, Guto, Dé e Frejat conhecem Cazuza na garagem em que ensaiavam. O Barão Vermelho ganhava seu vocalistaMarço de 1982O produtor musical Ezequiel Neves ouve uma fita demo do Barão Vermelho e convence João Araújo a gravar um disco do grupoMaio de 1982Em 48h de estúdio, os músicos gravam o primeiro disco da banda, chamado Barão VermelhoAbril e junho de 1983O Barão entra em estúdio, grava o segundo LP, Barão Vermelho 2, e estoura com o hit “Pro Dia Nascer Feliz”Julho de 1984O Barão grava o LP Maior Abandonado. Um ano depois,este seria o primeiro disco de ouro da bandaJulho de 1985Cazuza sai do Barão Vermelho. Uma semana depois, é internado com 42 graus de febreSetembro de 1985Investe na carreira solo e grava Exagerado. Começam as especulações sobre sua saúdeMarço de 1987Sente-se mal antes de lançar o segundo solo, Só Se For a DoisAbril de 1987O médico Abdon Issa chama os pais de Cazuza para uma reunião e dá o diagnóstico dos exames: ele tem aids. Cazuza descobre a verdade sobre sua saúdeOutubro de 1987Cazuza vai para Boston, nos EUA. Os médicos americanos desco-brem um fungo nos pulmões. No hospital, Cazuza compõe Ideologia e passa a usar uma nova medicação, o AZTAbril de 1988É lançado o disco IdeologiaAgosto de 1988Dirigido por Ney Matogros-so, Cazuza se apresenta, no Aeroanta, em São Paulo, com o show O Tempo Não PáraJaneiro de 1989No dia 24, num show em Recife, Cazuza sobe ao palco pela última vezFevereiro de 1989Cazuza viaja novamente para Boston, onde fica 15 dias internado. Nos EUA, dá uma entrevista dizendo pela primeira vez que tem aidsJunho de 1989Lucinha, João e Cazuza viajam para São Paulo em busca de um tratamento alternativo, à base de sangue de cavaloAgosto de 1989É lançado o dis-co BurguesiaOutubro de 1989Nova internação: o citomegalovírus se instala no aparelho diges-tivo de CazuzaJaneiro de 1990A equipe médica americana diz para a família de Cazuza que não há mais o que fazer: o citome-galovírus não cedia e não era possível testar outro medicamento contra a aidsJulho de 1990Pouco antes das 8h30 do dia 7, Cazuza mor-re na casa de seus paisAmores marcantes
Por onde andam alguns ex-namorados do cantor
Patrícia CaséÉ asses-sora de imprensa e pro-dutora de eventos. No início de junho, divulgou o lançamento de uma marca de perfumes da qual a atriz Camila Pitanga é garota-propaganda. Em 2000, promoveu o show Cazas de Cazuza, em São Paulo. Está sempre rodeada por artistas. É irmã da atriz Regina CaséNey MatogrossoEsse a gente nem precisa dizer. Vira e mexe, ele reaparece com um disco novo, a produção de algum show ou uma entrevista bombástica. Recentemente, mostrou que adora se renovar e gravou com Pedro Luís e a Parede o disco Vagabundo. Depois de uma temporada em Portugal, de onde voltou no meio de junho, segue em turnê pelo Brasil todoDenise DumontEx-atriz, mora nos Estados Unidos, onde virou produtora de cinema. É mãe de Diogo, 25 anos, filho que teve com o ator Cláudio Marzo, e está casada com o roteirista inglês Mat-thew Chapman, que é trineto do cientista Charles Darwin (!) e pai de sua filha, Anabella, 15 anosSerginho DiasAtor, com experiência principalmente em teatro. Após passar uma longa temporada nos Estados Unidos, mora atualmente no Rio de JaneiroSaiba mais
LivroSó as Mães São Felizes,de Lucinha Araújo e Regina Echeverria, GloboLeitura fácil e agradável. O livro mostra a vida de Cazuza sob o ponto de vista de sua mãe.SiteSite com a história da Sociedade Viva Cazuza – fundada por Lucinha Araújo após a morte do filho – que cuida de crianças vítimas de aids.FilmeCazuza, o Tempo Não Pára, dirigido por Sandra Werneck e Walter CarvalhoCom Daniel de Oliveira, como Cazuza, Marieta Severo (Lucinha Araújo) e Reginaldo Farias (João Araújo) no elenco. Estreou nacionalmente em 11 de junho.
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