6 de mar. de 2016

O que mudou de 2010 até a presente data?

* Escrevi esse texto em 2010 e publiquei no blog. A Ju Bueno resgatou. Apesar de todas as atualizações que houve depois desse ano, tudo continua do mesmo jeito:
Permita-me um desabafo ?
Fazendo algumas pesquisas na internet, me deparo com uma notícia do tempo da fusão entre o Itaú e o Unibanco : Itaú anuncia lucro de 5 bilhões e 900 milhões de reais entre janeiro e setembro daquele ano.
Achou o valor grande ? Os diretores do banco não, já que ele representa queda de 8% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Eles lamentavam.
Bancos são necessários, lucro é fruto de trabalho bem feito, portanto algo genuíno, mas, sinceramente, não consigo conceber que qualquer instituição, seja ela qual for, acumule soma nessa dimensão. Especialmente em um mundo onde milhares de adultos e crianças morrem de fome todos os dias.
Meu mal estar aumenta a medida que todos encaram com absurda naturalidade que o dinheiro esteja tão mal distribuído.
Enquanto tem gente morrendo de fome, morando na rua, sem remédios, educação, saneamento… pouquíssimos concentram tamanha riqueza.
Não discuto se é lícito, se uns trabalharam para isso e outros não, se é merecimento conforme as regras do jogo. Não é isso. A questão – e isso é o pior- é que construímos uma sociedade onde disparidades como essas são aceitas com impensável naturalidade.
Cinco bilhões, novecentos milhões de reais ! Tem ideia do que é isso ?
Criamos um sistema que depende de bancos e isso justifica e avaliza a morte de muitas e o enriquecimento de poucos.
Não pense que estou escrevendo conta os bancos ou defendendo o fechamento deles. Estou falando aqui sobre consciência de valores, sobre nossa apatia, nosso espirito condicionado a ver, mas não enxergar, ouvir, mas não escutar. Você compreende?
Veja o Vaticano. Não consigo conciliar sua pregação de amor, paz e ajuda aos necessitados, contrastando com uma estrutura bilionária e luxuosa, com terrenos, emissoras de comunicação, escolas, faculdades (pagas), e tentáculos nos governos de grandes países, acumulando muito mais dinheiro do que o Itaú. Não me refiro ao padre ali da paroquia que luta para manter suas obras sociais, falo da instituição rica, poderosa e influente, do luxo, das contas, do ouro que adorna cabeças brancas e inflexíveis.
No Brasil igrejas evangélicas compram canais de televisão e investem milhões com dinheiro de fiéis, pastores arrendam horários inteiros em rede nacional para “pregar o amor’. Que paz? que amor? . Depois de falarem sobre “deus”, saem com seus aviões particulares em orgias bancadas pelo dinheirinho suado da dona Maria que ainda se alegra por contribuir “na obra de deus”.
E nós aceitamos que seja assim.
Aceitamos e comemoramos o fato de que agora é possível comprar um carro em 60 vezes pagando, no fim das contas o valor de três carros. “Agora o povo tem acesso aos bens !” Bradam por ai sem explicar que esse acesso a TV de Plasma, o celular caro, o carro zero sempre, pagos a “suaves” e eternas prestações, lhes torna dependentes, sequestráveis, manipuláveis por uma industria que ganha muito a custa dos juros, créditos, empréstimos e inevitáveis endividamentos. Isso é inclusão social?
É por isso que até lojas de meias, pijamas ou eletrodomésticos viraram bancos disfarçados de lojas.
Enquanto isso nosso ex presidente sai por ai falando a imprensa internacional que aqui não existe mensalão, que a mídia o persegue porque é nordestino que caixa dois é uma prática aceitável e que o povo o apoia.
Apoia sim, presidente. Apoia sim…
O lucro do Itaú, no inicio de nossa conversa, simboliza um pouco do que fizemos do planeta, ou melhor, o que deixamos que façam com nossas consciências. Nos tornamos cínicos, aceitamos a fome e a miséria como algo natural diante de instituições que, cada vez mais ricas, pingam gotinhas de “caridade” enquanto destroem no povo o sentimento de que o sol deveria brilhar para todos, reduzindo as esperanças a lances de sorte ou “esperteza”.
Nos sensibilizamos, achamos triste, mas depois voltamos ao nosso desmedido “cada um por si”.
Enquanto isso, continuamos vivendo no planeta das ilusões, apostando na próxima mega sena, comentando o último jogo do Flamengo, sorrindo em frente a TV atentos a novela ou ao Faustão, sendo “defendidos” pelo Datena, votando nos caras das caras de sempre e achando bom, afinal, o que isso tem a ver comigo?
Desculpe o tom, mas não encontro outro para isso.


Por Flávio Siqueira



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