A vida é selvagem. Vivemos tentando criar sistemas que controlem o incontrolável, caixas onde caiba o infinito. Criamos a religião e tentamos encurralar a espiritualidade. Criamos um nome “D-e-u-s” que explique e reduza o mistério a um legislador moral. Criamos instituições como o casamento e pensamos que é só isso: padres, igrejas, certidões, estética social, comportamental, performática. O amor é selvagem. Casamentos são encontros de alma.
A espiritualidade não se limita aos códigos da religião, esse reflete apenas os humanos e suas buscas, apenas isso. Deus? Enquanto passamos a vida discutindo se cremos ou não cremos, reduzimos algo que transcende arquétipos, que não cabe em teologias, em livros, que não precisa de um nome que o legitime porque Deus é selvagem. Selvagem como a vida, como os animais, o cosmos, a natureza, como a vida e a morte.
Essa é nossa essência. Essencialmente selvagens. Chegamos assim. São os cuidados, a educação, a cultura onde fomos inseridos, a classe social e uma infinidade de vetores que nos roubam a condição da liberdade. A liberdade é selvagem. Aceitamos as caixas e nos esquecemos da essência. Trocamos o imprevisível pela ilusória sensação de controle.
Agora a nudez nos agride, nos escondemos em nossas roupas, em nossas caixas, nossos crachás, nossas instituições morais, nossa religião, nossa crença em absolutos que nos faça esquecer os tantos eus que habitam esse corpo. Elegemos a versão que melhor se enquadre às expectativas alheias, fingimos que a insuficiência nos basta, satisfeitos, até qualquer janela abrir, às vezes uma pequena rachadura na parede do quarto blindado, claustrofóbico, uma pequena fresta de luz. Luz selvagem.
O quarto não basta. As caixas não cabem. Os muros viraram prisões. Agora eu vejo lá fora e confronto meu ceticismo cínico. Meu conformismo amedrontado diante do fato de que nunca houve controle real. Eram negações, esconderijos para uma alma selvagem que aceitou as formas e deformou-se. Cética, cínica, morta.
Na morte do eu, renascem os eus. Eus que sou. Ser, selvagem, além dos códigos, maior, bem maior do que as caixas onde não quero mais caber.
Na morte do eu, renascem os eus. Eus que sou. Ser, selvagem, além dos códigos, maior, bem maior do que as caixas onde não quero mais caber.
Cada humano é um jeito de existir e cada jeito são muitos. Seres livres que vivem em um corpo, que jamais aceitarão reduzir sua experiência ao discurso do medo, da ameaça, da culpa, da morte.
Vivos em liberdade, conscientes que a morte não é um evento fúnebre, mas uma intervenção do imprevisível, do incontrolável. Morte selvagem. Selvagem como a vida, como Deus, como o amor, como tudo o que se assume como é, seres que só são em liberdade. Humanos. Selvagens.
Vivos em liberdade, conscientes que a morte não é um evento fúnebre, mas uma intervenção do imprevisível, do incontrolável. Morte selvagem. Selvagem como a vida, como Deus, como o amor, como tudo o que se assume como é, seres que só são em liberdade. Humanos. Selvagens.
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