11 de fev. de 2017

"A homossexualidade é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados". Dr. Drauzio Varella, médico oncologista, cientista e escritor, falando sobre a homossexualidade.


O neurologista britânico Simon LeVay, autor do livro Gay, Straight and The Reason Why (Gay, Hetero e Por Quê), descobriu, em 1991, a partir do estudo de cadáveres, que um grupo de células do hipotálamo anterior era duas vezes maior em homens hétero. E que o tamanho dessa estrutura cerebral, nos homens gays, era similar ao encontrado em mulheres. Outro estudo de 2008 do Instituto Karolinska, na Suécia, utilizou a ressonância magnética para analisar os cérebros de 90 pessoas e descobriu que lésbicas e homens heterossexuais compartilham uma “assimetria” particular entre os hemisférios, enquanto mulheres heterossexuais e homens gays não tinham diferença de tamanho entre as duas metades do cérebro.
“Há diferenças entre a estrutura e função cerebrais entre gays e homens hétero, e entre lésbicas e mulheres hétero. Essas diferenças provavelmente acontecem como consequência de fatores hormonais durante a vida pré-natal”, disse LeVay aCartaCapital. “Os genes também são uma influência significativa na orientação sexual de ambos os sexos, mas mais nos homens do que nas mulheres.”
Professor da Universidade de Liége, na Bélgica, e autor do livro Biologie de l’Homosexualité – On naît homosexuel, on ne choisit pas de l’être (Biologia da Homossexualidade – Nasce-se homossexual, não se escolhe ser), o neuroendocrinologista Jacques Balthazart apoiou-se em várias teorias científicas sobre a orientação sexual para defender a tese da homossexualidade nata em sua obra. Como sua primeira formação é em zoologia, Balthazart inclina-se pela explicação hormonal. Baseado em experimentos com animais, incluindo ratos e codornas, o cientista narra que foi possível modificar de forma irreversível a orientação sexual deles ao ministrar testosterona ou estradiol durante a fase embrionária.
Obviamente, é algo que não se pode replicar em humanos, mas, para Balthazart, indica que algo similar pode acontecer entre nós durante a gestação. As razões para que isso ocorra não são claras. “Provavelmente está relacionado a algum tipo de estresse a que a mãe foi submetida”, elucubra o professor belga. Se há essa predisposição nata, pergunto a ele como então se explicaria que tantas pessoas tenham tido ocasionalmente alguma experiência homossexual sem serem exatamente homossexuais ou mesmo bissexuais.
“Motivação sexual é outra coisa. Refiro-me aos homossexuais, ou seja, pessoas que se relacionam apenas com outras do mesmo sexo. Claro que tudo isso é parte da explicação, até porque existem várias homossexualidades”, diz Balthazart. “O ser humano é complexo. A teoria de que se nasce homossexual não exclui que possa haver homossexuais para quem essa orientação é uma escolha deliberada na vida, possivelmente influenciado pelas experiências do passado. Mas uma grande proporção de homossexuais nasce com essa inclinação.


A visão da psicanálise para a questão é igualmente ampla. Sigmund Freud não atribuiu uma origem única para a homossexualidade e considerava uma injustiça “exigir de todos uma idêntica conduta sexual”. Tampouco defendia que a homossexualidade fosse doença, coisa que muitos dos seus colegas fariam mais tarde: somente em 1973 a Associação Norte-Americana de Psiquiatria retiraria a orientação sexual da lista de transtornos mentais. Ainda assim, quatro anos mais tarde, a OMS incluiria a homossexualidade na classificação internacional de doenças mentais, o que só foi revisto em 1990. No Brasil, ser homossexual não é considerado transtorno mental desde 1985.
No recente trabalho O Que as Homossexualidades Têm a Dizer à Psicanálise, o professor da UFMG e da PUC-MG Paulo Roberto Ceccarelli conta que, em 1903, quando a homossexualidade ainda era vista como um problema médico-jurídico, o jornal austríacoDie Zeit pediu a Freud sua opinião sobre um escândalo envolvendo uma importante personalidade acusada de práticas homossexuais. “A homossexualidade não é algo a ser tratado nos tribunais. Tenho a firme convicção de que homossexuais não devem ser tratados como doentes, pois tal orientação não é uma doença”, disse então o pai da psicanálise.
Os textos freudianos, a partir da ideia central de que todos somos originalmente bissexuais, sugerem que a homossexualidade “é uma posição libidinal como qualquer outra”. Como a maioria dos psicanalistas, Ceccarelli rejeita a ideia da homossexualidade como algo inato. “Quando uma cadela está no cio, todos os machos vão atrás, mas no ser humano não é assim. Nada no ser humano é natural. A pessoa nasce, isso sim, com sexualidade”, diz. “O destino da sexualidade adulta, porém, é uma construção que começa muito cedo, no desejo de quem quis ter aquela criança, no lugar que a pessoa ocupa no desejo de quem quis a criança. Nossa sexualidade também está muito ligada à cultura judaico-cristã. Ninguém está imune a se descobrir um dia numa paixão homossexual, e a recíproca é verdadeira.”





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