1 de jun. de 2016

Como Eckhart Tolle explica o ego coletivo e ajuda a entender os conflitos sociais

By Nando Pereira (Dharmalog.com)
Entender o funcionamento do ego coletivo, além do ego individual, pode ser extremamente salutar para tomarmos consciência de comportamentos conflituosos no cotidiano, e também pode ajudar a rever e evoluir posturas e atitudes em momentos como nossa atual imensa crise política e social no Brasil — repleta de hostilidades, comportamentos rancorosos e demonstrações de agressividade física.  Qual é a motivação de uma pessoa quando ela se encontra no meio de um grupo? Sob que influência e atração ela está? O que a motiva a agir contra outro grupo? O que a move quando ela se sente parte e representante de um coletivo?
O escritor alemão Eckhart Tolle, autor de “O Poder do Agora“, dá sua visão sobre a gênese e motivação do ego coletivo no seu livro “O Despertar de Uma Nova Consciência” (Sextante, 2007), onde afirma que o ego individual muitas vezes encontra refúgio no ego coletivo, mas inevitavelmente esbarra no conflito e no sofrimento também lá. E após o ego coletivo experimentar esse sofrimento, Eckhart diz que algo valioso pode acontecer, mas que “pode ser doloroso acordar de repente e perceber que a coletividade com a qual nos identificamos e para a qual trabalhamos é, na verdade, insana“. O capítulo inteiro do livro citado é dedicado ao “Ego Coletivo“, cujo trecho segue mais abaixo.
Numa das partes de outro capítulo, Eckhart analisa o mecanismo de defesa e de motivação do ego coletivo:
“Medo, cobiça e desejo de poder são as forças motivadoras psicológicas que estão por trás não só dos conflitos armados e da violência envolvendo países, tribos, religiões e ideologias, mas também do desentendimento incessante nos relacionamentos pessoais. Elas produzem uma distorção na percepção que temos dos outros e de nós mesmos. Por meio delas, interpretamos erroneamente todas as situações, o que nos leva a adotar uma ação equivocada para nos livrarmos do medo e satisfazermos nossa necessidade interior de alcançar mais, um poço sem fundo que nunca pode ser preenchido”.
— Eckhart Tolle, em “O Despertar de Uma Nova Consciência” (pg. 15)
Com um pouco de calma e sensatez é possível observar o quanto de distorção e pressuposições equivocadas acontece nos confrontos políticos entre os cidadãos hoje, nas ruas e nas redes sociais, originados nessa crise de corrupção generalizada no poder. Notícias sem fundamento nem fonte confiável, por exemplo, são dos elementos mais óbvios que amplificam essas percepções equivocadas, reforçam “lados” e incitam ao conflito (incitam naquele que segue sem consciência, obviamente). No capítulo do ego coletivo, Eckhart explica melhor como o ego cria e se coloca de um lado, para seu próprio alívio, e então, fechado no grupo, age em seu nome, e assim se torna insano.
Nem toda atitude de defesa e conflito é egóica, naturalmente, afinal há ativismos justos e os comportamentos de grupo fazem parte da ecologia da vida. Mas pela indisfarçável presença do ego coletivo nos conflitos atuais, ou pela própria existência de vários desses conflitos graças à ação dos egos coletivos, cujos tons são dados pelas acusações de grupos, contra grupos, em defesa e cobiça, a visão de Eckhart Tolle, trazendo sua perspectiva de uma nova era, é útil e esclarecedora. Mesmo que a análise às vezes pareça desmotivadora, o tom da obra de Eckhart é de esperança e prevê a chegada de uma nova era baseada justamente na superação do ego como existe hoje, em prol do que chama de uma nova consciência.
Reforçando essa visão, deixo minha convicção de que não acredito que os grupos em conflito atualmente estejam tão separados assim em desejo e esperança de futuro. Há um foco exarcebado nas discordâncias, talvez obra desse ego coletivo, e uma invisibilidade estranha daquilo que os une, pois muito do que se aspira é comum.
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O EGO COLETIVO
Trecho de “O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA”
Por Eckhart Tolle
(tradução Henrique Monteiro)
Até que ponto é difícil viver consigo mesmo? Uma das maneiras pelas quais o ego tenta escapar da insatisfação que tem em relação a si próprio é ampliando e fortalecendo sua percepção do eu. Ele faz isso identificando-se com um grupo, que pode ser um país, um partido político, uma empresa, uma instituição, uma seita, um clube, uma turma, um time de futebol, etc.
Em alguns casos, o ego pessoal parece se dissolver completamente quando alguém dedica a vida a trabalhar com abnegação pelo bem maior de uma coletividade sem exigir recompensa, reconhecimento nem enaltecimento. Que alívio ser libertado da carga incômoda do eu pessoal. Os membros do grupo sentem-se felizes e satisfeitos, não importa quanto precisem trabalhar, quantos sacrifícios tenham que fazer. Eles parecem ter superado o ego. A questão é: será que se libertaram de verdade ou o ego apenas se mudou do plano pessoal para o coletivo?
Um ego coletivo manifesta as mesmas características do ego pessoal, como a necessidade de enfrentamentos e inimigos, de ter ou fazer mais, de estar certo e mostrar que os outros estão errados, etc. Cedo ou tarde, essa coletividade entrará em conflito com outras coletividades porque busca inconscientemente o desentendimento e precisa de oposição para definir seus limites e, assim, a própria identidade. Depois, seus integrantes experimentam o sofrimento, que é uma conseqüência inevitável de toda ação motivada pelo ego. A essa altura, eles podem despertar e compreender que seu grupo tem um forte componente de insanidade.
Pode ser doloroso acordar de repente e perceber que a coletividade com a qual nos identificamos e para a qual trabalhamos é, na verdade, insana. Nesse momento, há pessoas que se tornam cínicas ou amargas e, daí por diante, passam a negar todos os valores, tudo o que vale a pena. Isso significa que elas adotam rapidamente outro sistema de crenças quando o anterior é reconhecido como ilusório e, portanto, entra em colapso. Elas não encaram a morte do seu ego; em vez disso, fogem e reencarnam em outro.
Um ego coletivo costuma ser mais inconsciente do que os indivíduos que o constituem. Por exemplo, as multidões (que são entidades egóicas coletivas temporárias) são capazes de cometer atrocidades que a pessoa sozinha não seria capaz de praticar. Vez por outra, os países adotam um comportamento que seria imediatamente reconhecido como psicopático numa pessoa.
À medida que a nova consciência for surgindo, algumas pessoas se sentirão motivadas a formar grupos que a reflitam. E eles não serão egos coletivos. Seus membros não terão necessidade de estabelecer sua identidade por meio deles, pois já não estarão procurando nenhuma forma para definir quem são. Ainda que essas pessoas não estejam totalmente livres do ego, elas terão consciência bastante para reconhecê-lo em si mesmas ou nos outros tão logo ele se manifeste. No entanto, será preciso estar sempre alerta, uma vez que o ego tentará assumir o controle e se reafirmar de qualquer maneira. Dissolver o ego humano trazendo-o à luz da consciência – esse será um dos principais propósitos desses grupos formados por pessoas esclarecidas, sejam eles empresas, instituições de caridade, escolas ou comunidades. Essas coletividades vão cumprir uma função importante no surgimento da nova consciência. Enquanto os grupos egóicos pressionam no sentido da inconsciência e do sofrimento, as agremiações esclarecidas podem ser um vórtice para a consciência que irá acelerar a mudança planetária.
http://dharmalog.com/2016/04/26/eckhart-tolle-ego-coletivo-conflitos-sociais/

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