8 de abr. de 2017

"Eu não acredito em perdão anunciado"

Dentro do que as pessoas entendem por perdão, é na verdade vítimas e reféns de um sentimento aprendido e imposto religiosamente pela sociedade.

  1. Será que perdão divulgado e planejado é realmente perdão? 
  2. Será que perdão imediato é também um perdão real? 
  3. Será que um perdão "liberado" não seria uma forma de se destacar e com um ar de superioridade em relação ao perdoado, mesmo que inconsciente?
  4. Será que um perdão real, não seria quando eu não preciso perdoar, ou perdoando no silêncio? 
  5. Será que um perdão anunciado ativa e altivamente seria isso um perdão de fato ou uma coerção?
  6. Será que o "injustiçado" de fato está mesmo perdoando o perdoado ou ao mesmo tempo o "perdoador" não estaria numa posição hierárquica quando acha que está mesmo perdoando? 
  7. Será que quem perdoa, não estaria procurando um reconhecimento de "bondade" e de "misericordioso"?
  8. Será que esse tipo de perdão não seria condicional ou um jogo de hipocrisia?

SOBRE O PERDÃO....

Não acredito em perdão anunciado... aquele que transforma o perdoador num remissor em nível de superioridade.
Isso, para mim, é um ato sádico onde permite que a “vítima” derrube o “agressor” em um golpe mascarado de misericórdia.
Perdão, quando anunciado ativamente, esconde em um manto de pureza e santidade, impulsos egocêntricos e manipulações condutivas.
Perdoo apenas porque antes condenei e se assim o fiz, antes de tudo julguei... Assim está apenas em mim a oportunidade de misericórdia... apenas eu tenho a chave da liberdade, abrindo a prisão e libertando o prisioneiro de seu pecado no momento que para mim é oportuno.
O momento do perdão nada mais é que um momento e não o perdão... é uma espera de um ato condicional, onde o “agressor” deverá ser humilhado e diminuído.
Se preciso, neste momento, ser maior que o perdoado em sua inferioridade, carência e necessidade de minha aprovação, de minha liberdade como único e exclusivo permissor do seu reerguimento o perdão se torna condicional então não é perdão, é hipocrisia... jamais vi um “perdoador” cheio de “boas intenções”, quando mal recebido ou ignorado pelo “perdoado” que não precisa do perdão, deixar de inflamar seus sentimentos em explosões exponenciais de ira. Percebe-se alí o ressurgimento de sentimentos, em teoria extintos, agora reforçados em sentenças definitivas.
Onde estará o perdão se deixa de ser perdoado? Onde esteve a aceitação quando há expectativas de comportamentos e reações?
Perdão não deve ser voluntário nem tão pouco programado, impulsionado por crenças religiosas ou tentativas de superiorisar-se. Se assim é, tento apenas manipular o personagem criado em torno de mim mesmo.
Perdoo apenas quando não preciso perdoar...
Perdoo apenas quando estou isento de quaisquer necessidades e motivações puramente estéticas.
Aos que se incomodam com a formação dos carcinomas emocionais não enxergam que rancores não são reais e sim expressões de inaceitações, de reações inconformistas e temporais em relação a si próprio, expressos através de meios explosivos formatados em reflexos acusatórios. São momentâneos, são passageiros, são frágeis...
Perdão divulgado, como evento midiático, manipulador, não é o evento em si, é apenas exposição, não reação.
Perdão, bem no fundo, é infantilismo, ser perdoado também...
Perdão real é silencioso, indizível, indemonstrável, indiferente...
Perdão é o tempo composto da soma de momentos onde as poeiras abaixam, os ânimos se diluem, os atos transgressores se descolorem e perdem os contornos da ira.
Quando perdoo em atos, permito ao perdoado sentir-se tranquilo sem que nada seja anunciado, promovendo em mim a tranquilidade diante das inflamações antes corrosivas... é o cansar de atirar mais lenha e deixar o tempo, de forma livre, fazer seu efeito, já que tempo cimenta reações cicatrizando marcas e abrandando feridas.
Perdão, quando anunciado ativa e altivamente é coerção.
Posso também, naturalmente perdoar, quando analisar as atitudes do transgressor sob uma ótica antropológica em que entendo reações, impulsos e instintos... ou ainda quando relaciono a minha existência, assim como a do meu alvo um dia julgado, em uma perspectiva de tempo/espaço, onde passo a entender a imensidão do universo relacionada à pequenez de minhas mágoas e ressentimentos.
Reconheça-se apenas como um personagem e não como a realidade... Perceba o quanto a sua visão é limitada por inseguranças e temores já que enxerga apenas parcialmente e assim entenderá que todos os seus julgamentos nada mais são que uma percepção superficial dentro de uma caverna escura, com iluminação distorcida das expectativas e condicionamentos, como diria Platão.
É também perdoar, naturalmente, sem esforço e sem precisar perdoar quando permite que o tempo dissolva o que antes era matéria, agora vazio, antes forma, agora vácuo...
Entenda atos e respostas quando refletir que qualquer reação é motivada, essencialmente, não por um fato e sim, sempre, através de uma interpretação e sua indissociável relatividade. 





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